PRETO ZÉ NÃO DANÇAVA POR TIMIDEZ
Na década de 1930, as mensalidades e joias caras afastavam as classes populares do Flamengo. Os pretos. Entre os associados havia raras exceções, como esta, narrada pelo jornalista Mario Filho: “Zé Augusto tinha ido para o Flamengo ainda garoto. Era garoto, garoto não fazia mal que fosse preto. Mas o garoto cresceu, aí o Flamengo reparou na cor dele. Não tinha nada contra ele, pena que ele não fosse branco. Zé Augusto nunca mais apareceu no rinque de patinação. O rinque de patinação era mais do futebol. Como não se metia a jogar futebol, Zé Augusto não se metia a dançar. Ele só ficava no Flamengo porque não jogava futebol e não dançava, isto é, não chamava muita atenção”.
Foi por esta época que Jarbas, em 1933, se tornou o primeiro jogador preto (e pobre) titular no time principal do Flamengo, após a implantação do profissionalismo - por boas rendas, a cor da pele não importava - e mais de duas décadas da adoção do futebol. Antes, só jogadores brancos e de boas famílias - semelhante à composição da própria torcida rubro-negra - tinham vestido a camisa do rival.
A popularidade do Flamengo só deu as caras a partir da segunda parte dos anos 30 e na década seguinte, graças à FlaPress e ao seu visionário presidente Bastos Padilha. Até então, como o próprio Padilha lembraria um dia, as duas maiores torcidas na capital da República eram as de Vasco e América.
Os flamenguistas sentiam-se forasteiros na zona norte. No 4x4 com o Olaria, em 1932, por exemplo, um cartola reclamou: “Pedi ao nosso diretor que mandasse guarnecer o nosso arqueiro, pois os assistentes lhe arremessavam tudo: pedras, cascas de laranja, garrafas”.
Mario Filho: “O time precisava levar seus torcedores, pois não tinha os locais. Cruzavam a cidade em caravana”.
RECAÍDA
A torcida do Flamengo cantava “festa na favela”, ao ritmo de axé. Em 2019, a diretoria do rival a orientou, por suas redes sociais, a evitar o uso da palavra “favela” por uma suposta relação com atos de violência.
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