O dia da tão aguardada licitação do Maracanã - para administrá-lo por vinte anos - tinha chegado: 27 de outubro de 2022. Com o palco armado pelo governador flamenguista Claudio Castro para a vitória do “Consórcio Fla-Flu”, o Vasco, com o “Consórcio Maracanã para Todos”, entrava na briga. Mas cometeu um erro: anunciou UM DIA antes, e não UM MINUTO antes do prazo de entrega dos envelopes. Em 24 horas, agentes do sistema identificaram ser ela – inclusiva, em parceria com WTorre e Legends - muito melhor que a dos coirmãos da zona sul. Foi então que o conselheiro do TCE-RJ e flamenguista Marcio Pacheco embargou o processo. Para ele e outros do órgão, certos itens do edital, subitamente, se tornavam inadmissíveis.
Graças a esta intervenção, Flamengo e Fluminense continuaram administrando-o por mais um ano e meio – até hoje (abril de 2024) – com lucros evidentes – como desde 2019. Os envelopes contendo as propostas técnicas dos três concorrentes já foram entregues ao Governo do Rio e estão sendo avaliadas desde o último dia 5 de março.
Não existe prazo para o início da terceira e última fase da licitação.
Com a Odebrecht e a Lagardère bem longe do Maracanã, os governadores flamenguistas William Witzel e Claudio Castro – rubro-negro ao ponto de estar em Guayaquil, no Equador, para ver a final da Copa Libertadores – renovaram nove concessões provisórias seguidas para a dupla Fla-Flu, através de um Termo de Permissão de Uso (TPU) precário e sob alegação fajuta: “urgência”.
A falta de chamamento público para a renovação dessas gestões provisórias passou a ser questionada pelo Vasco. Assim, em 7 de novembro de 2023, ela foi realizada, como farsa: vetava empresas internacionais; além da necessidade de apresentação de atestado de capacidade em gestão de operação e manutenção de estádios de futebol com ao menos 30 mil lugares e em ginásios para no mínimo cinco mil pessoas.
O Vasco
não os tem. Os rivais também não, porém, se dizem “donos” do Maracanã e do
Maracanãzinho – bens públicos... Até a Arena 360, a outra concorrente
nesta licitação (provisória), solicitou explicações a Claudio Castro: “Afronta
o caráter competitivo e a isonomia da concorrência no Brasil”.
Sem concorrência, o Fla-Flu pagou R$ 234 mil\mês de outorga, obtendo o TPU até dezembro de 2024 (ou até a licitação definitiva).
A não participação do Vasco foi destacada pelos rivais em uma nota oficial cínica e repleta de passagens bizarras.
Como esta:
“O Estado do Rio, de forma cautelosa e preocupado com um patrimônio turístico [mentira; bajulação], não pode permitir que se torne (sic) um espaço destinado, prioritariamente, a shows [mentira], impondo o deslocamento de partidas para outros estádios [mentira], para que o gestor possa lucrar com outros eventos [mentira]”.
POLÍTICOS
Antes da eleição para o governo do Rio, em 2022, cartolas do Flamengo se encontraram com os principais candidatos – os flamenguistas Claudio Castro e Marcello Freixo, o atual presidente da EMBRATUR – para negociar o futuro do Maracanã. Ao seja: quando Castro saiu-se vitorioso nas urnas, as cartas estavam marcadas em relação à licitação.
Nesta época, Freixo foi entrevistado por um veículo de mídia flamenguista. Sobre a licitação – em outubro de 2022 – ele disse: “Parece que um ou dois clubes farão a gestão”. Descartou resgatá-lo para o Estado, tornando-o público outra vez, gerido pela SUDERJ e livre das ações discriminatórias.
Sete anos antes, em 2016, em sua campanha à prefeitura, Freixo tinha se reunido com o então presidente Bandeira de Mello, para debater o mesmo assunto: a ocupação do Maracanã.
Sobre o conselheiro que travou a licitação em 2022, Marcio Pacheco, ele foi escolhido para o TCE-RJ graças à articulação de Claudio Castro, na disputa com o vascaíno Rosenberg Reis. Castro era o chefe de gabinete de Pacheco, na ALERJ, enquanto Pacheco, ex-deputado estadual, era o líder do governo do flamenguista Wilson Witzel - o cassado que deu início às concessões provisórias.
Pacheco enfrenta processos no Tribunal de Justiça-RJ por suposto peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro que teriam ocorrido em seu gabinete quando era deputado.
Em abril de 2023, a conselheira do TCE-RJ e flamenguista Mariana Willeman pediu vista - para estudar o caso (como se já não tivesse tido tempo de sobra) e solicitou a manutenção da tutela provisória que suspendeu a licitação de outubro de 2022, seguida pelos outros conselheiros.
Negou mais um pedido do Vasco sobre a gestão provisória.
De imparcial Mariana Willeman nada tem: é esposa do ex-vice-presidente Jurídico do Flamengo na gestão Bandeira de Mello, Flavio Willeman (hoje, subprocurador do Estado). O relator Cristiano Lacerda Ghuerren defendeu a não renovação do TPU, mas foi voto vencido.
Parecia que o TCE-RJ estava se esforçando para atrasar o processo, pois, assim, o TPU continuaria sendo renovado em favor dos de sempre. O Flamengo, inclusive, já tinha vendido pacotes de ingressos para os seus jogos no estádio até o fim da temporada – mesmo com o Maracanã sob a concessão precária, cuja validade poderia acabar antes desse prazo.
Certo dia, o TCE-RJ desistiu de criar impedimentos e aceitou a proposta de licitação de Castro, mantendo para 7 de dezembro de 2023 a data limite para a candidatura dos três concorrentes. Em clima de festa, o diretor jurídico do Flamengo, Antônio Panza, e o vice-presidente geral, Rodrigo Dunshee, estiveram presentes no plenário do tribunal.
Na última hora, o desembargador e flamenguista André Emilio Ribeiro Von Melentovytch - associado do Fla, tinha se dclarado, em 2017, suspeito para julgar assuntos do seu clube de coração – indeferiu um mandado de segurança solicitando mais um adiamento do processo licitatório.
Além da fidelidade dos candidatos a governador, o Flamengo mantém relações excepcionais com o outro concorrente na licitação: a Arena 360 - gestora do Estádio Mané Garrincha, em Brasília – uma sociedade anônima fechada cujo maior acionista é o Banco Regional de Brasília (BRB) - dos cinco bancos público nas mãos de unidades federativas -, por coincidência... patrocinador do clube da Gávea.
POLÍCIA FEDERAL
O flamenguista Claudio Castro pode ser outro governador do Rio de Janeiro a conhecer o xilindró. Na última quinzena de 2023, ele teve os sigilos bancário, fiscal e telefônico quebrados pela Polícia Federal, como parte da Operação Sétimo Mandamento, que apura DESVIOS E FRAUDE EM LICITAÇÕES EM CONTRATOS SOCIAIS ENTRE 2017 E 2020, CORRUPÇÃO ATIVA E PASSIVA, LAVAGEM DE DINHEIRO E PECULATO.
O irmão dele teve a casa visitada: busca e apreensão.
Os delatores são Marcus Azevedo da Silva, segundo o qual
Castro recebeu propina em contratos da prefeitura, como vereador, em 2017. Já Bruno Campos Selem,
ex-Servlog, tinha contrato com a Fundação Leão XIII, e disse ao Ministério
Público-RJ que, num encontro, em 2019, Castro, então vice-governador de Witzel,
teria recebido R$ 100 mil em espécie de Flavio Chadud, o dono da Servlog, em um
shopping center na zona oeste – o encontro está registrado por câmeras de
segurança.
RUAS ESTREITAS
Os gestores ignoravam itens do TPU para afastar o Vasco do Maracanã. Ao mesmo tempo, São Januário era interditado por longos três meses. Motivo: o preconceito social do juiz de plantão do Juizado dos Torcedores, Marcelo Rubioli, reverberado em outras instâncias. Rubioli: o estádio tem problemas com “disparos de armas de fogo e trafico de drogas na favela próxima, além de torcedores se embriagando em ruas estreitas”.
Ou seja: o Flamengo e Claudio Castro boicotavam o Vasco no Maracanã – só joga apelando à Justiça – enquanto a desembargadora e flamenguista Renata Cotta mantinha o veto a torcedores em São Januário – o time voltaria a jogar lá, mas com o estádio vazio -, inclusive a mulheres, crianças e deficientes físicos. Segundo ela, questão bom senso.
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