BREVE HISTÓRIA DA PRIVATIZAÇÃO
DO MARACANÃ - OS VAMPIROS
Los
Angeles Memorial Coliseum e Estádio Olímpico de Roma estão entre os muitos
grandes estádios do planeta administrados por governos. Assim era o Maracanã,
de 1950 a 2013, ano em que os vampiros neoliberais, em favor dos coirmãos
Fla-Flu e com a ajuda do ex-governador (ladrão) Sérgio Cabral Filho (PMDB),
conseguiram privatizá-lo – nome de fantasia: “parceria público-privada”. O
Maracanã original, o “maior do mundo”, foi demolido a partir de 2010, e, no
lugar dele, surgiu uma arena de porte médio.
O
sucateamento das estatais marcou a década de 1990, com políticos inescrupulosos
e suas teorias de privatizações. O Maracanã entrou na mira deles. A primeira
tentativa foi em 1992,
na gestão do ex-governador Marcello Alencar (PSDB). Com a tragédia
ocorrida na final do Brasileirão – Flamengo 2x2 Botafogo – para muitos a degradação parecia algo sem solução.
O
cartola flamenguista Marcio Braga (PSDB) era o presidente da SUDERJ quando o
Maracanã chegou no fundo do poço. Foi na gestão dele que a grade da
arquibancada cedeu e dezenas de torcedores ficaram
pendurados. Outros caíram nas cadeiras. Três mortos. Isso porque as grades de alumínio estavam
sem manutenção, havia parafusos corroídos pela oxidação e faltavam porcas.
A
proposta do botafoguense Alencar era derrubá-lo, para que um novo estádio e um
shopping center fossem levantados e oferecidos na bandeja à iniciativa privada,
seguindo os modelos de higienização\elitização em moda na Europa (na
Inglaterra, para conter os hooligans).
Esfriou em 1997, devido ao fracasso da candidatura do Rio para sediar os Jogos
Olímpicos de 2004.
Após esta
primeira tentativa, os vampiros sumiram no breu, nas gestões dos ex-governadores
Anthony Garotinho (PDT\PSB) e sua mulher, Rosinha Garotinho (PMDB). Já com o Cabral
no poder, voltam sedentos por sangue: Flamengo, Fluminense e CBF – garantia 70%
dos jogos da Seleção Brasileira no estádio - unidos pela gestão do templo.
Mas havia um
problema: ao contrário da argumentação neoliberal na década de 1990, dessa vez
não era possível alegar que o Maracanã devia ser privatizado por estar
sucateado, após duas reformas milionárias com dinheiro público. A última, para
adaptá-lo aos Jogos Pan-Americanos.
Sergio Cabral
esperou por dias melhores (não para o povo), e, logo, chegaram com os mega
eventos: entre 2006 e 2007, a FIFA e o COB escolheram o Brasil como a sede da
Copa do Mundo de 2014 e o Rio, dos Jogos Olímpicos de 2016. Não custou para ele
anunciar a intenção de privatizar o estádio – após a Copa, e a criminosa
demolição nem sequer era cogitada...
Em 2012,
enfim, é aberta a licitação – dois anos antes do previsto e com a demolição já
em andamento. O consórcio formado por Flamengo, Fluminense e CBF desponta como
favorito. A hora exata, o dinheiro, a influência, a indulgente omissão da
classe política e da sociedade. Pressão da mídia – a FlaPress... Na última hora
seria cancelada porque Cabral, ardiloso, vetou clubes e entidades esportivas,
seguindo uma recomendação jurídica.
Não demorou
a que Regis Fichtner, o secretário
da Casa Civil, anunciasse a abertura de um novo
processo licitatório, em 2013. Mentiu o canalha: “Não queremos que seja do
clube A ou B. Não faz sentido”.
Dois
consórcios credenciam-se: o “Maracanã S\A”, das brasileiras IMX, Odebrecht e
AEG – a preferida de Cabral e da dupla Fla-Flu, e com vitória assegurada - e o
“Complexo Esportivo e Cultural do Rio”, da OAS, da holandesa Stadion Amsterdam
e da francesa Lagardère Unlimited.
A oferta vitoriosa foi de R$ 5,5 milhões\ano, em 33 parcelas. Total: R$
181,5 milhões.
O Consórcio Maracanã S\A (Odebrecht: 90%, IMX Holding S\A: 5% e AEG:
5%) ao restituir aos cofres públicos R$ 5,5 milhões\ano por 33 anos — com isenção nos dois primeiros —, totaliza R$ 181,5 milhões, uma fração do R$ 1,2 bilhão gasto na
construção da nova “arena”.
A
IMX Holding S/A pertencia ao empresário (ladrão) Eike Batista. Apresentou a Cabral um
estudo de viabilidade da “Arena Maracanã”, segundo o qual o lucro do consórcio
vitorioso poderia alcançar R$ 1,4 bilhão até 2048 – hoje, um favorecimento
imoral aos coirmãos Fla-Flu.
Eike havia
doado R$ 750 mil à campanha de Cabral ao governo.
Rodolfo
Landim, o presidente do Flamengo, era um amigo e grande executivo nas empresas
de Eike Batista. O cartola flamenguista, hoje em dia, responde na 10ª Vara Criminal por gestão
fraudulenta de um endinheirado fundo de pensão.
SEM INTERMEDIÁRIO
Em 2017, em meio às denúncias de corrupção da Lava Jato e aos prejuízos
financeiros na “Arena Maracanã”, a Odebrecht desistiu do negócio, repassando-o
ao Governo do Rio. A relação
do Consórcio Maracanã S/A com o Fla-Flu era conflituosa, inclusive em relação a
um empréstimo. Enquanto os coirmãos pretendiam administrá-lo sem intermediário,
o governador (ladrão) Luiz Pezão (PMDB)
descartou a sua reestatização através da SUDERJ.
A roubalheira na construção da “arena” e na privatização
da mesma era escancarada. Cabral estava preso. Executivos
da Odebrecht
também, como os fiscais das contas públicas que não contestaram a licitação de
2013. O STJ determinou a prisão de cinco conselheiros do Tribunal de Contas Estadual
(TCE-RJ), por propina, inclusive o presidente, Jonas Lopes – pediu dinheiro
para aprovar o edital de concessão do Maracanã.
Até
2019, o TCE-RJ tinha engavetado 21 dos 22 processos de investigação.
Com o
cenário indefinido, o rival investia na chantagem: sem nós, o que será do Maracanã?...
Em maio de 2018, o prefeito Marcelo Crivella (REP) autorizou o Flamengo a construir um
estádio para 25 mil pessoas, na Gávea. Em setembro, o clube acertou a opção de
compra de um terreno no Caju.
O ano de 2018 começa com
o Governo do Rio avaliando lançar um novo edital.
Antes disso, o
inesperado aconteceu: em 2019, o Tribunal de Justiça-RJ obriga o Estado a vender o
Maracanã – e que caberia ao Consórcio Maracanã S/A – operado pela Odebrecht – decidir
com quem iria fechar o negócio e repassar a gestão. Optou pelo grupo
formado por Lagardère – derrotada na licitação, fraudulenta, de 2013 – e BWA, e
que estava em desacordo ao projeto monopolista do Flamengo.
A Lagardère, francesa, nem desconfiou que contrariava o sistema de forma ostensiva.
Imediatamente começou a pressão – implacável – sobre Pezão, exercida pelo presidente Eduardo Bandeira
de Mello (PSB), pela subsecretária municipal do Legado Olímpico,
Patrícia Amorim (PMDB) e outros. Tudo isso com a SUDERJ loteada há décadas pelos cartolas do Flamengo e seus prepostos.
As ações, obviamente, resultaram em golpe, com a venda à Lagardère cancelada pelo Governo do Rio. Na verdade, foi a empresa francesa que desistiu, ao se deparar com os inúmeros problemas burocráticos e judiciais criados pelo rival para sabotar a transação.
A gestão foi retomada pelo Estado em 2019 para organizar uma nova licitação (que só agora, em 2024, acontece).
O ex-governador Wilson Witzel (PSC) e o atual,
Claudio Castro, fãs entusiasmados do clube dos ricos da Gávea, sistematicamente, passaram a renovar a concessão precária – semestral – aos coirmãos Fla-Flu.
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