23 de março de 2024


BREVE HISTÓRIA DA PRIVATIZAÇÃO

DO MARACANÃ - OS VAMPIROS 


Los Angeles Memorial Coliseum e Estádio Olímpico de Roma estão entre os muitos grandes estádios do planeta administrados por governos. Assim era o Maracanã, de 1950 a 2013, ano em que os vampiros neoliberais, em favor dos coirmãos Fla-Flu e com a ajuda do ex-governador (ladrão) Sérgio Cabral Filho (PMDB), conseguiram privatizá-lo – nome de fantasia: “parceria público-privada”. O Maracanã original, o “maior do mundo”, foi demolido a partir de 2010, e, no lugar dele, surgiu uma arena de porte médio.

O sucateamento das estatais marcou a década de 1990, com políticos inescrupulosos e suas teorias de privatizações. O Maracanã entrou na mira deles. A primeira tentativa foi em 1992, na gestão do ex-governador Marcello Alencar (PSDB). Com a tragédia ocorrida na final do Brasileirão – Flamengo 2x2 Botafogo – para muitos a degradação parecia algo sem solução.

O cartola flamenguista Marcio Braga (PSDB) era o presidente da SUDERJ quando o Maracanã chegou no fundo do poço. Foi na gestão dele que a grade da arquibancada cedeu e dezenas de torcedores ficaram pendurados. Outros caíram nas cadeiras. Três mortos. Isso porque as grades de alumínio estavam sem manutenção, havia parafusos corroídos pela oxidação e faltavam porcas.

A proposta do botafoguense Alencar era derrubá-lo, para que um novo estádio e um shopping center fossem levantados e oferecidos na bandeja à iniciativa privada, seguindo os modelos de higienização\elitização em moda na Europa (na Inglaterra, para conter os hooligans).
 
Esfriou em 1997, devido ao fracasso da candidatura do Rio para sediar os Jogos Olímpicos de 2004.

Após esta primeira tentativa, os vampiros sumiram no breu, nas gestões dos ex-governadores Anthony Garotinho (PDT\PSB) e sua mulher, Rosinha Garotinho (PMDB). Já com o Cabral no poder, voltam sedentos por sangue: Flamengo, Fluminense e CBF – garantia 70% dos jogos da Seleção Brasileira no estádio - unidos pela gestão do templo.

Mas havia um problema: ao contrário da argumentação neoliberal na década de 1990, dessa vez não era possível alegar que o Maracanã devia ser privatizado por estar sucateado, após duas reformas milionárias com dinheiro público. A última, para adaptá-lo aos Jogos Pan-Americanos. 
 
Sergio Cabral esperou por dias melhores (não para o povo), e, logo, chegaram com os mega eventos: entre 2006 e 2007, a FIFA e o COB escolheram o Brasil como a sede da Copa do Mundo de 2014 e o Rio, dos Jogos Olímpicos de 2016. Não custou para ele anunciar a intenção de privatizar o estádio – após a Copa, e a criminosa demolição nem sequer era cogitada...

Em 2012, enfim, é aberta a licitação – dois anos antes do previsto e com a demolição já em andamento. O consórcio formado por Flamengo, Fluminense e CBF desponta como favorito. A hora exata, o dinheiro, a influência, a indulgente omissão da classe política e da sociedade. Pressão da mídia – a FlaPress... Na última hora seria cancelada porque Cabral, ardiloso, vetou clubes e entidades esportivas, seguindo uma recomendação jurídica.

Não demorou a que Regis Fichtner, o secretário da Casa Civil, anunciasse a abertura de um novo processo licitatório, em 2013. Mentiu o canalha: “Não queremos que seja do clube A ou B. Não faz sentido”.

Dois consórcios credenciam-se: o “Maracanã S\A”, das brasileiras IMX, Odebrecht e AEG – a preferida de Cabral e da dupla Fla-Flu, e com vitória assegurada - e o “Complexo Esportivo e Cultural do Rio”, da OAS, da holandesa Stadion Amsterdam e da francesa Lagardère Unlimited.

A oferta vitoriosa foi de R$ 5,5 milhões\ano, em 33 parcelas. Total: R$ 181,5 milhões.

O Consórcio Maracanã S\A (Odebrecht: 90%, IMX Holding S\A: 5% e AEG: 5%) ao restituir aos cofres públicos R$ 5,5 milhões\ano por 33 anos — com isenção nos dois primeiros , totaliza R$ 181,5 milhões, uma fração do R$ 1,2 bilhão gasto na construção da nova “arena”. 

A IMX Holding S/A pertencia ao empresário (ladrão) Eike Batista. Apresentou a Cabral um estudo de viabilidade da “Arena Maracanã”, segundo o qual o lucro do consórcio vitorioso poderia alcançar R$ 1,4 bilhão até 2048 – hoje, um favorecimento imoral aos coirmãos Fla-Flu.

Eike havia doado R$ 750 mil à campanha de Cabral ao governo.

Rodolfo Landim, o presidente do Flamengo, era um amigo e grande executivo nas empresas de Eike Batista. O cartola flamenguista, hoje em dia, responde na 10ª Vara Criminal por gestão fraudulenta de um endinheirado fundo de pensão.    
 
SEM INTERMEDIÁRIO

Em 2017, em meio às denúncias de corrupção da Lava Jato e aos prejuízos financeiros na “Arena Maracanã”, a Odebrecht desistiu do negócio, repassando-o ao Governo do Rio. A relação do Consórcio Maracanã S/A com o Fla-Flu era conflituosa, inclusive em relação a um empréstimo. Enquanto os coirmãos pretendiam administrá-lo sem intermediário, o governador (ladrão) Luiz Pezão (PMDB) descartou a sua reestatização através da SUDERJ.

A roubalheira na construção da “arena” e na privatização da mesma era escancarada. Cabral estava preso. Executivos da Odebrecht também, como os fiscais das contas públicas que não contestaram a licitação de 2013. O STJ determinou a prisão de cinco conselheiros do Tribunal de Contas Estadual (TCE-RJ), por propina, inclusive o presidente, Jonas Lopes – pediu dinheiro para aprovar o edital de concessão do Maracanã.

Até 2019, o TCE-RJ tinha engavetado 21 dos 22 processos de investigação. 

Com o cenário indefinido, o rival investia na chantagem: sem nós, o que será do Maracanã?... Em maio de 2018, o prefeito Marcelo Crivella (REP) autorizou o Flamengo a construir um estádio para 25 mil pessoas, na Gávea. Em setembro, o clube acertou a opção de compra de um terreno no Caju. 

O ano de 2018 começa com o Governo do Rio avaliando lançar um novo edital.

Antes disso, o inesperado aconteceu: em 2019, o Tribunal de Justiça-RJ obriga o Estado a vender o Maracanã – e que caberia ao Consórcio Maracanã S/A  operado pela Odebrecht  decidir com quem iria fechar o negócio e repassar a gestão. Optou pelo grupo formado por Lagardère – derrotada na licitação, fraudulenta, de 2013  e BWA, e que estava em desacordo ao projeto monopolista do Flamengo.

A Lagardère, francesa, nem desconfiou que contrariava o sistema de forma ostensiva.

Imediatamente começou a pressão – implacável – sobre Pezão, exercida pelo presidente Eduardo Bandeira de Mello (PSB), pela subsecretária municipal do Legado Olímpico, Patrícia Amorim (PMDB) e outros. Tudo isso com a SUDERJ loteada há décadas pelos cartolas do Flamengo e seus prepostos.

As ações, obviamente, resultaram em golpe, com a venda à Lagardère cancelada pelo Governo do Rio. Na verdade, foi a empresa francesa que desistiu, ao se deparar com os inúmeros problemas burocráticos e judiciais criados pelo rival para sabotar a transação. 

A gestão foi retomada pelo Estado em 2019 para organizar uma nova licitação (que só agora, em 2024, acontece).

O ex-governador Wilson Witzel (PSC) e o atual, Claudio Castro, fãs entusiasmados do clube dos ricos da Gávea, sistematicamente, passaram a renovar a concessão precária – semestral – aos coirmãos Fla-Flu.

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