OS CAMISAS NEGRAS NA TELA
Os rivais de hoje – Botafogo, Flamengo, Fluminense – eram
racistas e xenófobos: não aceitavam pretos ou pobres como sócios e muito menos permitiam
que os representassem nos gramados. O foot-ball era da elite. Isso
até 1923, quando o Vasco, um time do Centro da cidade repleto de players
pretos, pobres e\ou analfabetos, conquistou o Campeonato Carioca. Um feito tão
marcante quanto o negro Jack Johnson nocauteando o branco Tommy Burn, em 1908.
Antes, o boxe era segregado. Ou Jesse Owens calando a multidão de nazistas no Estádio
Olímpico de Berlim, em 1936.
A saga desse time, os “Camisas Negras”, a mais bela do
futebol brasileiro, irá virar longa-metragem, com direção do ator Lázaro Ramos
e produção da Amazon Studios, nos cinemas em 2024. O roteiro tem a colaboração
do Centro de Memória do Vasco.
Será uma obra de ficção baseada na vergonhosa perseguição aos "Camisas Negras" já imortalizada na “Resposta Histórica”, o documento de 1924 assinado pelo
ex-presidente José Augusto Prestes – marco na luta
antirracista no futebol brasileiro.
VILÕES DE SEMPRE
Um século depois, o Vasco outra vez perseguido pelos rivais da
zona sul, impedido de atuar em São Januário e no Maracanã (usurpado, sob o rótulo de “licitação”) ao mesmo tempo. Motivo: os de 1923.
Na derrota para
o Goiás por 1x0, em junho, vascaínos atiraram rojões no gramado e a Polícia
Militar respondeu disparando bombas de gás pimenta e cacetadas. Nos dias seguintes, o juiz Marcelo Rubioli proibiu jogos em São Januário.
Alegação: é cercado por uma favela perigosa – a Barreira
do Vasco – onde o tráfico de drogas gera insegurança [não é verdade]: “São ruas
estreitas (...) sempre lotadas de torcedores se embriagando antes de
entrar no estádio”.
O argumento foi acolhido pelo Ministério Público-RJ, o qual só liberou São Januário três
meses depois, graças a um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) aceito pelo clube.