15 de abril de 2024


TRAPAÇA NA LICITAÇÃO DO MARACANÃ

O edital de licitação do Maracanã é uma arapuca. No documento proposto pelo flamenguista e governador Claudio Castro, para obter a nota máxima na “proposta técnica” – a de maior peso - seria necessário apresentar 70 datas de jogos por temporada. Os números (vazados na FlaPress) indicam a vitória do ‘Consórcio Fla-Flu’ por 117 x 81 sobre o ‘Consórcio Maracanã Para Todos’, que inclui o Vasco, já que a comissão de licitação – escolhida por Castro – desconsiderou possíveis jogos de Santos e Brusque, sob a alegação de que eles não estão sediados no Rio de Janeiro.

Este veto contraria o próprio edital, e inviabiliza qualquer outra proposta que não seja a dos coirmãos da zona sul - ou seja: uma trapaça.

Para completar 70 jogos, ou perto disso, o Vasco não poderia ter como aliados Bangu, Olaria ou América – times cariocas - porque somente os clubes das séries A e B do Brasileirão têm direito a se credenciar à licitação.

Também era impossível incluir jogos de Flamengo e Fluminense, o que seria algo natural – a proposta do ‘Consórcio Maracanã para Todos’ é o estádio aberto a qualquer um, com isonomia, sem discriminação (ao Vasco) e sem os privilégios que, desde 2019, favorecem os gestores provisórios (Fla-Flu).

Em qual estádio eles jogariam, além do Maracanã, no caso de uma – mais que provável – vitória da proposta do ‘Consórcio Maracanã Para Todos’?

... Rua Bariri? Luso-Brasileiro? Laranjeiras? Brasília? Juiz de Fora?!

Sobre quem pode participar da concorrência, consta no idem 8 do edital – CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÃO NO CERTAME – 8.1 - Poderão participar da licitação pessoas jurídicas nacionais ou estrangeiras, isoladamente ou reunidas em consócio, cuja natureza e objeto sejam compatíveis com sua participação na licitação.

A justificativa da comissão de licitação é absurda:

“O licitante (Vasco) (...) No que se refere às datas pertencentes a Santos e Brusque, é forçoso reconhecido que as mesmas não se prestam a cumprir às exigências do edital, uma vez que se trata de entidades sediadas em outros Estados da federação”.

O contorcionismo prossegue, tomando por base normas da CBF e ignorando que a Vila Belmiro, o estádio do Santos, será fechada para reforma. O clube paulista tem tradição (e glórias) no Maracanã desde o tempo de Pelé.

“(...) que tal condição impõe aplicação de restrições prescritas em regimentos da CBF, notadamente o Regimento Geral de Competições (RGC), que textualmente reconhece como excepcional a transferência de uma partida de futebol, da união federativa que tal clube está vinculado”.

CHANTAGEM

Sempre que é contrariado sobre o Maracanã, o Flamengo responde que vai abandoná-lo e construir um estádio próprio – na Barra da Tijuca, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Ilha do Governador, Gávea ou Caju – nunca o faz – é jogo de cena para encobrir a real intenção de apoderar-se eternamente do patrimônio público.

A primeira vez em 1957: contrariado com o preço dos ingressos no Maracanã, que eram definidos pelos deputados do então Distrito Federal, Hilton Santos, o presidente, ameaçou reformar a Gávea.

Com a situação do Maracanã indefinida após a desistência da Odebrecht, em 2017, começou a chantagem (arma de covardões): o prefeito Marcelo Crivella autoriza o Flamengo a construir um estádio para 25 mil torcedores, na Gávea. Em setembro, o rival assina a opção de compra de um terreno entre a Avenida Brasil e a Linha Vermelha.

A mensagem é clara: sem nós, o que será do Maracanã?

Sobre o coirmão Fluminense, em 2000, o governador Anthony Garotinho propôs financiar um estádio para 45 mil na Barra da Tijuca, a ser dividido com o Botafogo – pronto em 2002. Recusaram.

PROPOSTA FINANCEIRA

Três princípios norteiam as ações do Estado nas licitações públicas, e nenhum deles foi cumprido: 1) impessoalidade (todos iguais) – espantoso favorecimento ao Flamengo; 2) publicidade (transparência) – não há. Atos da comissão de licitação vazados para a imprensa, duas vezes; e 3) economicidade (vantagem financeira) – Maracanã, equipamento público, deve gerar dinheiro.

O vice-presidente Jurídico do Flamengo, Rodrigo Dunshee, quase teve um ataque de pânico ao saber – por  vazamento de informação – que a proposta técnica do ‘Consórcio Maracanã Para Todos’ tinha a participação de Santos e Brusque, além do Vasco.                                            

Dunshee – um advogado repudiado por famílias das vítimas da Tragédia do Ninho do Urubu, em 2019 - passou a bradar que o Vasco estaria burlando o edital: uma grande mentira.

Mas esta versão, fake, reverberou na FlaPress e deu certo.

Eis que se descobriu - em outro vazamento seletivo - que a comissão de licitação já tinha decidido o ganhador, ao impugnar Santos e Brusque e, assim, fazendo abrir 36 pontos (117 x 81) em favor do ‘Consórcio Fla-Flu’.

Diferença impossível de ser revertida com a proposta financeira – a última fase, que está por vir.

As propostas “técnicas” e “financeiras” costumam ser proporcionais.  Nada justifica o Governo abrir mão de arrecadar mais dinheiro – poderia investi-lo em saúde, educação, qualquer área – em favor dos de sempre.  

A surpresa de Dunshee com a presença de Santos e Brusque foi porque ele acreditava que o trambique no edital de licitação já estivesse consolidado desde 2022, com a furtiva intervenção do flamenguista e conselheiro Marcio Pacheco e do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ).

O  Vasco não podia ter chance...    

GOLPE DE 2022

O ‘Consórcio Maracanã Para Todos’ apostava na superioridade da sua proposta financeira para ganhar a licitação - a entrega dos envelopes estava prevista: dia 27 de outubro de 2022. Com o palco armado para a vitória do ‘Consórcio Fla-Flu’, o Vasco, através do ‘Consórcio Maracanã para Todos’, entrou na briga.

Mas cometeu um erro: anuncia UM DIA antes, e não UM MINUTO antes do prazo de entrega dos envelopes.

Em 24 horas, agentes do sistema identificaram ser ela – em parceria com WTorre - a melhor. O responsável por travar o processo licitatório foi Marcio Pacheco, conselheiro do TCE-RJ. Segundo ele e outros do órgão, itens do edital, subitamente, se tornavam inconcebíveis.

Um ano e meio depois - abril de 2024 - a licitação voltaria à cena, mas, dessa vez, com uma diferença fundamental: a “proposta técnica” passa e ter bem mais valor em relação à “proposta financeira”.

Durante um ano e meio, o processo licitatório esteve no TCE-RJ. Um dia, a conselheira e flamenguista Mariana Willeman pediu vista - para estudar o caso. Solicitou a manutenção da tutela provisória que tinha suspendido a licitação de outubro de 2022, seguida pelos seus pares.

Negou o pedido do Vasco sobre a gestão provisória.

De imparcial Mariana nada tem: é esposa do ex-vice-presidente Jurídico do Flamengo na gestão Bandeira de Mello, Flavio Willeman (hoje, um subprocurador do Estado). O relator Cristiano Lacerda Ghuerren defendeu a não renovação do Termo Provisório de Uso (TPU), mas foi voto vencido.

ENSAIO

Sucessor do ladrão Luiz Fernando Pezão, Wilson Witzel ofereceu a gestão provisória a Flamengo e Fluminense em 2019 por uma bagatela. Preso, o seu sucessor Claudio Castro prometeu concluir a licitação até novembro de 2021. Mentira. Enquanto isso, eles renovaram nove concessões provisórias (semestrais) para a dupla Fla-Flu.

Nos últimos anos, ignorando os apelos do Vasco – que questionava a renovação provisória sem que houvesse um chamamento público por ela. Em novembro de 2023, enfim, aconteceu o “chamamento público”, mas, na verdade, era ensaio para o trambique que, agora, se desenrola.

Em jogo, a cessão do Maracanã até 31 de dezembro de 2024 - ou até a licitação. O Vasco, impedido de participar: foi vetada a participação de empresas internacionais (a sócia, WTorre); 2) atestado de capacidade técnica em gestão de operação e manutenção de estádio de futebol com capacidade mínima de 30 mil lugares; e 3) o mesmo em ginásio esportivo com capacidade mínima de cinco mil lugares. 

O Vasco não os tem. Os rivais muito menos. Porém, se dizem “donos” do Maracanã e do Maracanãzinho – bens públicos.  

Sem concorrência, levaram a melhor, com a pechincha de R$ 234 mil\mês de outorga. Os cartolas dos coirmãos da zona sul – míopes de caráter quando o papo é isonomia – ainda emitiram um nota criticando a ausência do Vasco nesta licitação fajuta.  

PERSONAGENS

Graças à articulação política do governador Claudio Castro que Marcio Pacheco foi eleito conselheiro do TCE-RJ. Castro era o chefe de gabinete de Pacheco, na ALERJ. Pacheco – ex-deputado líder do governo de Wilson Witzel - é acusado pelo Ministério Público-RJ de peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro que teriam ocorrido em seu gabinete quando ainda era um deputado estadual.

Witzel, Castro e Pacheco são entusiasmados torcedores do Flamengo e frequentam os jogos de camisa e bandeira.

Em breve, Claudio Castro pode ser outro governador preso.

Na última quinzena de 2023, seus sigilos bancário, fiscal e telefônico foram quebrados, na Operação Sétimo Mandamento: apura DESVIOS E FRAUDE EM LICITAÇÕES EM CONTRATOS SOCIAIS ENTRE 2017 E 2020, CORRUPÇÃO ATIVA E PASSIVA, LAVAGEM DE DINHEIRO E PECULATO.

O irmão dele teve a casa visitada: busca e apreensão.

Delatores: Marcus Azevedo da Silva diz que Castro recebeu propina em contratos da prefeitura, como vereador, em 2017. Já Bruno Campos Selem, ex-Servlog, tinha contrato com a Fundação Leão XIII, e disse ao MP que, num encontro, em 2019, Castro, então vice-governador, teria recebido R$ 100 mil em espécie de Flavio Chadud, o dono da Servlog, em um shopping na zona oeste – o encontro está registrado por câmeras de segurança.


FOTO - O governador Claudio Castro, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim e seus amigos.


11 de abril de 2024

         

     
   

FLA-FLU EXISTE PARA ATACAR O VASCO

O neologismo “Fla-Flu” surgiu em 1925 quando os jornais estamparam o caráter da Seleção Carioca dos técnicos Joaquim Guimarães, do Flamengo, e Chico Neto, do Fluminense só com os players dos seus clubes, brancos e endinheirados. Pior: a conquista do Campeonato Brasileiro iria consagrar a tese elitista-racial deles, e influenciar a CBD a só convocar brancos para o Campeonato Sul-Americano, em Buenos Aires. Três vascaínos foram excluídos: os analfabetos Paschoal e Torterolli e o goleiro, de cor preta, Nelson “Chofer” (na pele de um torcedor) – o titular em 1923, quando barrou Marcos, do Flu e Kuntz, do Fla. 

Tudo para que os brasileiros não fossem chamados de “macaquitos”, como dois anos antes.

Sobre Nelson "Chofer", era taxista e fazia ponto no Engenho de Dentro. 

Segundo o jornalista Mario Filho, na viagem de navio da Seleção Brasileira até Montevidéu, para o Campeonato Sul-Americano de 1923, Torterolli e Paschoal procuravam imitar os modos de Fortes, do Fluminense. “Ao fim do jantar chegou uma lavanda. Fortes, de brincadeira, fingiu que ia bebê-la e os dois beberam até não restar uma gota”. 

O fato serviu como argumento para a LMDT, segundo a qual seria conflituosa a relação entre os players “bacanas” e os do Vasco. Logo, a CBD iria a acolher a infâmia da liga carioca.

Não é incomum encontrar tricolores com simpatias pelo Flamengo e vice versa, como dois lados de uma só moeda.

Até 1911, havia sócios de ambos. Em 1902, alguns flamenguistas - inclusive o presidente, Virgílio Leite - assinaram a ata de fundação do Fluminense, na Rua Marquês de Abrantes, bairro Flamengo. Em 1905 e 1906, os coirmãos tiveram o mesmo presidente ao mesmo tempo: o ricaço inglês Francis Henry Walter – ele também defendeu os dois como atleta.

O Flu repassou ao Fla o terreno do Morro da Viúva, em 1935. O futebol rubro-negro nasceu na Rua Paysandu, num terreno da família Guinle, tricolor. Inclusive, lá o Flu disputou seu primeiro jogo. Ou seja, flamenguistas ajudaram a fundar o coirmão e tricolores criaram o futebol do Flamengo, capitaneados por Alberto Borgerth, remador do Fla e player do Flu.

O campo arrendado em 1915 pelo Flamengo, na Rua Paysandu, era vizinho ao estádio da Rua Guanabara (Laranjeiras), sendo o primeiro jogo, naturalmente, o confronto entre eles, com seus players e torcedores brancos.

PRECONCEITO

Em 1916, o Vasco estreou na terceira divisão da LMSA e só chegaria à primeira divisão em 1923. Diferentemente do Flamengo, que tinha dado os seus primeiros chutes quatro anos antes, em 1912, na mesma LMSA e diretamente na primeira divisão - graças à interferência do Fluminense, o dono da bola.

Em sua estreia na divisão principal, o Vasco conquistou o título de 1923. 

Alarmados e sem provar que os players do Vasco eram profissionais, Flamengo, Fluminense e outros abandonam a Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT) e fundam a Associação Metropolitana de Esportes Atheticos (AMEA) – mais excludente – presidida pelo ricaço Arnaldo Guinle, presidente do Flu, e não convidam... O campeão!

Para filiar-se, além de menos peso nas votações, teria que eliminar doze atletas. Os clubes da primeira divisão eram multiesportivos. O Vasco só tinha o remo, assim, voltaria às origens no foot-ball, na companhia de Mangueira, Andarahy e Americano. 

Recusou, é claro, e os Camisas Negras foram bicampeões, em 1924, na liga abandonada pelos covardes.

O regulamento da AMEA, criada por Fla, Flu e outros, não escancarava a proibição aos players de cor preta, mas incluía artigos que inviabilizavam a presença deles: vivia-se o amadorismo, e os times deveriam ser formados por estudantes ou trabalhadores alfabetizados que não exercessem profissão “subalterna” (soldado, marinheiro, estivador, barbeiro, garçom etc.).

Ao se darem conta de que os públicos nos jogos dos Camisas Negras na LMDT, mesmo sem destaque nos jornais, eram superiores, a AMEA, através do Botafogo, convida o Vasco a se filiar, mesmo com o seu time de “analfabetos”, “pretos” e “trabalhadores”. Continuou proibido de jogar no estádio da Rua Moraes e Silva.

Em 1925, o Vasco sofria mandando jogos em Laranjeiras e na Rua Paysandu, pagando 10% da renda. No primeiro, os sócios ficavam atrás de Nelson Chofer ofendendo-o com palavrões racistas e xenófobos. O fidalgo dizia não ter culpa. Na campo do Flamengo, piorou: os flamenguistas, constatou Mario Filho, sentiam mais raiva dos vascaínos. Nova troca, para o Andarahy, mas já era tarde para ser tricampeão.

Os clubes da zona sul não reconheciam o Vasco – da zona portuária, com torcida mais popular – como um “grande” igual a eles. Foi em resposta a este preconceito que os vascaínos se uniram para viabilizar a construção do Estádio de São Januário, o maior da América do Sul (até 1930), do Brasil (até 1939) e do Rio (até 1950).   

Jogadores e torcedores de Flamengo e Fluminense mantinham relações de amizade, se cruzavam no Restaurante Lamas, na Matriz da Glória, na Rua das Laranjeiras. Um só comportamento. “O Flamengo até poderia ter algum preto no remo ou no basquete, jamais no futebol. Os barcos ficam longe, e nas regatas nem é possível reparar a cor da pele dos remadores. No futebol, não”, explica o flamenguista Mario Filho.

Em 1934, o Flamengo protesta contra guarnição vascaína em uma regata e tem o inesperado apoio do Fluminense, que não pratica o remo, mas é filiado à Federação Brasileira das Sociedades de Remo (FBSR), gestora dos esportes aquáticos. Inconformado com a intromissão, o Vasco abandona a FBSR para fundar a Liga Carioca de Remo (LCR) e, também, rompe com a Liga Carioca de Futebol (LCF) com Bangu e São Cristóvão – na crise de 1924, estes ficaram com os ricos – para fundar, junto ao Botafogo, a Federação Metropolitana de Desportos (FMD), profissional e a única na cidade reconhecida pela CBD.

A aliança entre Flamengo e Fluminense é endossada pelo presidente rubro-negro Bastos Padilha. Após uma partida entre os coirmão, o Fla perdeu e parte da diretoria reclamou que as bolas não eram as oficiais. Exigia que Padilha protestasse, mas ele nada fez, porque defendia que a boa relação com Arnaldo Guinle era fundamental para o “projeto Fla-Flu”. Renunciou. Em dias, os revoltosos se acalmaram e o cartola retomou o posto.

FLAPRESS

Em 1935 e 1936, Flamengo e Fluminense estão na LCF; América, Botafogo e Vasco, na FMD, que tem os jogos de maior apelo. De acordo com Mario Filho e Bastos Padilha, as torcidas de Vasco e América eram as maiores da cidade.

Neste contexto de cisão, os coirmãos tinham claro o valor da imprensa na formação da opinião pública. O jornalismo esportivo na capital da República contava com o Rio Sportivo (1926), o Mundo Sportivo (1931) e o Jornal dos Sports (1931) — copia o italiano La Gazzetta dello Sport e o francês L’Auto, impresso em cor de rosa. Em 1936, o flamenguista Mário Filho o compra, com a ajuda de Roberto Marinho, flamenguista de O Globo – o investidor majoritário -, Arnaldo Guinle, presidente do Flu e Bastos Padilha, presidente do Fla.

Com a FlaPress nos primórdios, o Jornal dos Sports, apoiado pela Rádio Continental, começa a promover o “Duelo de Torcidas” nos Fla-Flus. A divulgação é maciça, inédita, na disputa pelas melhores rendas com o Vasco. No primeiro “duelo”, eles protestaram contra a CBD: os diretores de ambos os clubes se vestiram de branco, demostrando união. O presidente do Fla, Bastos Padilha, recebeu uma placa do amigo e presidente do Flu, Alaor Prata.  

A expressão “Fla-Flu”, enfim, é propagada no “Duelo de Torcidas”.

Nelson Rodrigues: “O Fla-Flu sem esta abreviação mágica existia desde 1911 ou 12. Até que Mário Filho mudou o nome (...) senhoras, que não sabiam nem quem era a bola, compareciam ao jogo, magnetizadas pelo mito”.

Tentavam manter o Vasco em plano secundário.

A FlaPress nas décadas de 1930 e 1940 – como a AMEA, com a réplica da Carta Histórica, de 1924 – tinha por meta afastá-lo das causas populares relacionando-o apenas aos portugueses, enquanto o Flamengo, com o seu DNA racista, passou a ser identificado como o verdadeiro clube popular. O Fluminense, sua antítese: o preferido dos ricos.

Mario Filho escreveu no Jornal dos Sports, em 1940: “Por que não se tenta apagar o ressentimento entre as torcidas de Vasco e Flamengo?”. Iniciou no Torneio Municipal [os times não atuavam em seus próprios estádios]: no Flu x Botafogo e no Flu x São Cristóvão, em São Januário, os vascaínos aplaudiram os adversários do time tricolor. Mas, quando o Vasco foi à Gávea encarar o Flu, os rubro-negros vaiaram os Camisas Negras. “Desde então, os torcedores do Vasco se veem obrigados a vaiar o Flamengo e vice-versa”.

O “duelo de torcidas” foi relançado com a inauguração do Maracanã. Outra vez, em 1951, a FlaPress tenta fazer do Fla-Flu o clássico mais popular, mas é impossível. Badalado a semana inteira, levou menos público do que o Vasco x Fla (1x2) - como quase sempre –, neste jogo, o rival quebraria a escrita de não bater o Expresso da Vitória desde a final de 1944.

Tempos depois, na decisão do Campeonato Carioca de 1974 – Flamengo 0x0 Vasco - o ex-presidente da República, ditador e flamenguista Emílio Garrastazu Medici encontrava-se na tribuna de honra. Já o presidente do Flamengo, Hélio Mauricio, cardíaco, ouvia pelo rádio, na sede do Fluminense, em Laranjeiras, na companhia do presidente tricolor, Jorge Frias, e correu para o Maracanã após o apito final. 

Na semana seguinte, na eleição realizada na Gávea, Hélio Maurício seria reeleito — com o voto de um associado ilustre: Médici.

Em 1986, o flamenguista Marcio Braga ajudou a derrotar o vascaíno Medrado Dias na eleição à presidência da CBF - a vida inteira combateu o Vasco e teve Eurico Miranda como desafeto. Já a sua relação com os cartolas do coirmão (e do Botafogo) sempre foi amistosa. Ele e Francisco Horta, ex-presidente do Fluminense, foram amigos de infância em Copacabana.

EURICO

Frustrados com o bi vascaíno em 1993 e com a boa relação entre Eurico Miranda e Eduardo Vianna, o presidente da FERJ, os coirmãos cooptam o Botafogo na “Liga Carioca”. Querem o Campeonato Carioca sem vínculo com a FERJ, da qual pretendiam se desfiliar – como em 1924... –, mas recuam dissuadidos pela FIFA. A FlaPress os apoia e abre espaços. Um político, em especial, surfa naquela onda de moralismo barato: o então deputado estadual Sergio Cabral Filho (PMDB).

A “Liga Carioca” é ressuscitada em 1997, como sempre para combater o Vasco, por Kleber Leite (Fla), Álvaro Barcellos (Flu) e José Rolim (Bota), presidida por Francisco Horta (ex-Fla-Flu). Esses cartolas entraram em transe profundo quando Eurico se baseou no regulamento para adiar jogos do Campeonato Carioca, se valendo de que o time vascaíno tinha quatro atletas em Seleções Brasileiras (Germano, Edmundo, Felipe e Pedrinho).

Em 1997 e 1998, os membros da “liga”, por chilique, perderam jogos por W.O.

Passaram anos tentando derrubar Eduardo Vianna, o “Caixa d’Água”, da presidência da FERJ e só conseguiram quando este morreu, em 2006. Rubens Lopes assumiu em 2007. Rubinho – até hoje o presidente – para se eternizar tornou-se um aliado dos herdeiros daqueles racistas da AMEA.

FATALIDADES

No primeiro rebaixamento do Vasco à Série B, em 2008, na última rodada do Brasileirão era preciso ganhar do Vitória e torcer por uma combinação de resultados. No Atlético-PR 5x3 Flamengo, a vitória do rival ajudaria, e um empate lhe daria uma vaga na Libertadores. O primeiro gol paranaense foi em uma cabeçada fortíssima de Toró – cria do Flu – no primeiro pau, sem chance de defesa. Gol-contra! O Fla era presa fácil – talvez, devido à pressão da torcida, que, na véspera, tinha pichado os muros da Gávea com ameaças aos jogadores e a Marcio Braga (“Se ganhar morre”) se o Vasco fosse... ajudado.

Os coirmãos tabelaram em 2013, quando a Portuguesa impediu a queda de Flamengo ou Fluminense à Série B do Brasileirão.  Na última rodada, a Lusa lançou em campo - no final do segundo tempo - Héverton, irregular - caso inédito: nem o atleta, nem o técnico, diretor ou imprensa se deram conta da infração. Nesta última rodada, dois jogadores irregulares é outro absurdo. Para o Ministério Público-SP, funcionários da Lusa foram subornados. Esta perdeu quatro pontos e foi rebaixada no lugar do Fla, que, um dia antes, cometera o mesmo erro escalando André Santos contra o Cruzeiro. Se nada tivesse ocorrido, o rebaixado seria o Flu – já anunciado nos jornais. Dias depois, foram confirmadas as duas escalações irregulares, e os tricolores festejaram na porta do STJD mais uma virada de mesa.

Antes deste jogo com o Cruzeiro, parte da FlaPress anunciou que André Santos não poderia ser escalado. Pois bem: ele foi e, depois, não se viu nada, em qualquer mídia, sobre o tema. O silêncio só iria acabar quando constatou-se que a Portuguesa cometera – um dia depois – igual infração.

Em 2015, o técnico Vanderlei Luxemburgo, do Flamengo, disse em uma entrevista que a federação devia “levar porrada”. É suspenso dois jogos pelo TJD, inclusive de um Fla-Flu. O Fluminense, solidário, se uniu em protesto contra os juízes da FERJ. Veja que esquisito: os jogadores do time mais favorecido (Fla) do Brasil e do dileto coirmão (Flu), lado a lado, com as bocas cobertas por esparadrapos... em nome da moral! O Flamengo, campeão carioca roubado em 2014, ameaçava até não disputar em 2016.

MARACANÃ

Já governador, Sérgio Cabral anunciou, em 2008, que o Maracanã iria ser privatizado após as obras de “reforma” para a Copa de 2014. Flamengo, Fluminense e CBF tramaram a ocupação, com esta anunciando 70% dos jogos da Seleção Brasileira no estádio. Cinco anos depois, em 2013, os concorrentes da licitação para gerir a “Arena Maracanã” por 35 anos eram o Consórcio Maracanã S/A — vencedor de véspera, imediatamente sublocou a gestão aos coirmãos — e o Complexo Esportivo e Cultural do Rio.

O propósito dos coirmãos é sabotar o Vasco, tomando o estádio para si. A primeira exclusão foi em relação à torcida vascaína, que em 2013 deixou de ter prioridade no lado direito da tribuna para uma torcida menor que a sua.                           

A demolição do velho Maracanã foi uma bênção para Flamengo e Fluminense: ganharam uma nova arena de R$ 1,2 bilhão, sem gastar um tostão. Muito lucrativa. Mentira oficial: dava prejuízo antes da privatização.

A desculpa dos rivais para terem recusado a gestão compartilhada com o Vasco é que o gramado seria danificado pelo excesso de jogos. É chocante a discriminação aos vascaínos, tratando-os – com a conivência da FlaPress - sem os mesmos direitos ao patrimônio público. Alegaram que com mais de 70 jogos por temporada a grama seria prejudicada – na cabeça deles, é isso: a graminha tem mais valor que o futuro do Vasco.

Incluindo preliminares e outros eventos, o Maracanã abrigou 160 jogos em 1964; 157 em 1965; 211 em 1970; 114 em 1980. Pelé e Garrincha não reclamavam.

Os coirmãos também se recusam, covardemente, a liberar o Maracanã para jogos do Vasco - só apelando à Justiça, algo recorrente nos últimos anos, e sempre com sucesso. O disparate é tanto que contraria itens do contrato de concessão provisória que os enriquece.

Antes de buscar parceiros para a licitação, o Vasco tentou se acertar com Flamengo e Fluminense. Recusaram, é claro. Em O Globo, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, argumentou que Alexandre Campello, ex-presidente do Vasco, em 2019 – não quis a gestão PROVISÓRIA do estádio – e, assim, ele encerrou o assunto para toda a eternidade.

A soberba de Landim, executivo nas firmas do ladrão Eike Batista, é um traço da elite rubro-negra: 

“Ninguém aqui está privilegiando ninguém. Não estão entregando a ninguém. O Vasco teve chance de se associar ao Flamengo e ao Fluminense, mas no início de todo esse processo preferiu não se juntar”.

NOTA OFICIAL

“O Vasco da Gama se vê obrigado a esclarecer informações dadas pelo presidente do CR Flamengo, Rodolfo Landim: 1. Não é verdade que o Flamengo ofereceu ao Vasco a oportunidade de participar da gestão do Maracanã neste processo licitatório. O dirigente usa o desinteresse de outra gestão, em 2019, em uma outorga precária de seis meses, para concluir que não queremos administrá-lo. Não diz que, a partir do início de 2021, procuramos CR Flamengo e Fluminense FC com o objetivo de participar na gestão, não sendo possível. OS RIVAIS TÊM ACORDO MÚTUO DE EXCLUSIVIDADE NA GESTÃO DO ESTÁDIO PÚBLICO. 2. Ao criarmos o Consórcio Maracanã para Todos, trouxemos dois gigantes da indústria de administração de arenas. A narrativa de que o Vasco “entrou para melar” é tão surreal que não vale comentário. 3. O Vasco aguarda a nova publicação do Edital de Licitação, uma vez que o processo foi paralisado pelo TCE um dia antes do prazo de entrega das propostas. 4A narrativa de que a presença das empresas parceiras do Vasco deixará o futebol em segundo plano é mentira. 5O Vasco é um clube de futebol com 125 anos de história, grande parte construída no Maracanã. O futebol é prioridade. O VASCO REITERA SEU COMPROMISSO DE ABRIR O MARACANÃ A TODOS OS CLUBES E SUAS TORCIDAS, EM CONDIÇÕES IGUAIS. INFELIZMENTE A RECÍPROCA NÃO ESTÁ SENDO VERDADEIRA. O CR Flamengo negou duas vezes em 2022 o direito dos nossos torcedores verem seu time no Maracanã, com justificativas implausíveis. Tivemos nosso pleito acatado por duas instâncias do Judiciário. 6Ao contrário do que faz parecer, o CR Flamengo tem constantemente infringido cláusulas da Permissão Temporária de Uso do Maracanã. Todos devem utilizá-lo sob as mesmas condições. O Fluminense FC pagava R$ 90 mil por jogo. O Vasco, R$ 250 mil, além de não repassarem a receita de bares e restaurantes, quebrando a igualdade de tratamento. Censuraram a exibição de mensagem institucional: "Desde 1898 o legítimo Club do Povo – Respeito Igualdade Inclusão". 7. Ao contrário do que foi declarado, para participar da gestão do Maracanã oferecemos ao Fluminense FC mandar alguns jogos em São Januário. 8O Vasco da Gama reitera sua solicitação de que o certame definitivo aconteça o mais rápido possível, com regras claras e transparentes e tenha como norte o melhor para o Estado do Rio de Janeiro, todos os seus clubes e torcedores, sem influências. Não temos dúvidas de que o Consórcio Maracanã para Todos é o mais bem preparado e que, se o resultado for técnico, será o vencedor. 9. Queremos tranquilizar a imensa torcida vascaína: o Vasco da Gama e a 777 Partners utilizarão todos os mecanismos ao nosso alcance para que nossos interesses sejam preservados”.

10 de abril de 2024

RIVAL SEMPRE MAMOU NAS TETAS DO ESTADO

No final do século XIX, os remadores rubro-negros, às vezes, usavam o píer da presidência da República para lançar os barcos na Baía de Guanabara, tirando proveito da vizinhança entre o Palácio do Catete e o casarão que servia de sede\garagem do clube, cujos atletas eram todos estudantes ricos, brancos, os legítimos filhos da burguesia.

Desde então, parece que o Flamengo se considera no direito de obter benefícios públicos.

De Pedro Ernesto a Witzel e Claudio Castro, são muitos os favorecimentos. Ao usurpar o Maracanã, o Flamengo - junto ao Fluminense – ignora o disparate que é discriminar a imensa torcida do Vasco em um estádio público, que custou R$ 1,2 bilhão – sem contar os sacos de dinheiro utilizados desde 1950 em manutenção e incontáveis reformas, de todos os contribuintes cariocas, inclusive muitos milhões de vascaínos, vivos e mortos.

Em 1921, segundo o Correio da Manhã, deputados tramaram para que o Flamengo recebesse do Governo federal um empréstimo para a construção do seu estádio. “O stadium da Praia Vermelha, com piscina monumental, será muito em breve uma esplêndida realidade”. O jornal considerava a iniciativa de interesse nacional: “Os poderes públicos o desoneraria (...), permitindo-lhe iniciar entre nós a cultura física”. Deu errado porque o local é área militar e o Ministério da Guerra detonou a investida.

O Flamengo – que, antes, sonhava com a Praia Vermelha - em 1926 ocupou 34.120m quadrados na Gávea, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas. Uma invasão. Na época, havia nas proximidades uma favela, aniquilada por incêndio criminoso nos anos 60, durante a gestão do flamenguista e governador da Guanabara, Carlos Lacerda.

Hoje, as margens da Lagoa Rodrigo de Freitas são uma das localidades mais valorizadas pelo mercado imobiliário no Brasil.

Neste mesmo ano de 1926, a prefeitura do Distrito Federal também doou ao Botafogo o terreno para que este construísse a sua sede – o palacete de General Severiano. O Vasco não teve boa vida: precisou comprar um terreno em São Cristóvão, zona norte, para levantar o seu monumental estádio.

No ano seguinte, é negado ao Vasco pelo presidente da República, Washington Luís, a importação de cimento belga, sabendo que o país não dispunha de quantidade para uma obra da envergadura de São Januário. Pouco antes, havia liberado o produto para a construção do Jockey Club Brasileiro - espaço da elite (Fla-Flu) -, no Jardim Botânico.

O último jogo do Flamengo na Rua Paysandu foi em 1932. Depois, peregrinou em Laranjeiras e General Severiano. Enquanto isso, o interventor Pedro Ernesto, prefeito do Distrito Federal (1931-1936) nomeado por Getúlio Vargas, oferecia ao rival inúmeras vantagens: em 1933, o aforamento do terreno invadido em 1926, e a liberação de empréstimos para a construção, no local, do Estádio da Gávea – inaugurado em 1938 (Fla 0x2 Vasco).

No Natal de 1935, Pedro Ernesto articula para que o Flu repasse ao Fla o terreno próximo ao Morro da Viúva, para a construção de um ginásio. Grato por tanta gentileza, em troca, o presidente Bastos Padilha concedeu a Getúlio o título de “presidente do honra” do Flamengo.

O terreno fora doado em 1916 pela Marinha de Guerra ao Fluminense, e lá deveria ter sido construída a sede náutica do fidalgo.

Desde sempre o Flamengo forja a associação de si ao conceito de “nação” – fundado a 17 de novembro, os pioneiros acharam por bem mudar para 15 de novembro, coincidindo, assim, com a Proclamação de República.

A partir de meados da década de 1930, ações de marketing partiam do Jornal dos Sports: por civismo, antes de um Fla-Flu, em Laranjeiras, a torcida cantou o hino nacional, fazendo valer recente lei do Estado Novo. Nas páginas do periódico, era comum a relação entre Brasil e Flamengo.

Em 1936, o clube promove um concurso de fotografia, chamado “Uma vez Flamengo, sempre... tudo pelo Brasil”, com patrocínio do Jornal dos Sports. Roberto Marinho concorre, mas o clique vencedor é o de Hans Peter Lange: dois operários na construção do Estádio da Gávea – o “novo” perfil para as novas gerações de flamenguistas. Em 1937, a vencedora foi a de um torcedor com as bandeiras do Brasil e do Flamengo às mãos.

Getúlio Vargas e Eurico Dutra colaboraram com o Flamengo. Vargas concedeu um generoso empréstimo, a juros baixos. Dutra, ao assumir a presidência da República, não custou a doar ao clube de coração – do qual era associado - um valioso terreno no Centro da cidade. Também foi parcial na comemoração do 1º de maio no primeiro ano de governo: em um amistoso Flamengo x São Paulo, disputado em São Januário.

No terreno próximo ao Morro da Viúva foi construída a nova sede social do Flamengo nos quatro primeiros andares de um prédio enorme. O rival teve o apoio de Dutra para a liberação de um empréstimo de Cr$ 40 milhões da Companhia SulAmérica de Seguros. Em 1953, foi inaugurado. Vinte andares, 148 apartamentos para alugar na zona sul – nada mal em se tratando de um clube esportivo. Em 2017, o vendeu a uma imobiliária por R$ 112 milhões.

O negócio foi possível graças à intervenção do prefeito Marcelo Crivella, ao aprovar lei permitindo que o imóvel se tornasse um “empreendimento comercial”. O queridinho do sistema ainda mantém 44 apartamentos por lá.

Das poucas derrotas do Flamengo na queda de braço com governantes – em qualquer esfera – foi na década de 1950, quando os deputados do Distrito Federal e, depois, da Guanabara - e não os clubes! - decidiam sobre os preços dos ingressos no Maracanã. O impasse atravessou as gestões de Negrão de Lima (PSD) e Carlos Lacerda (UDN) na prefeitura, ao ponto de o presidente Juscelino Kubitschek (PSD) sugerir a federalização.

PONTA DIREITA

Em 1945, com a queda do Estado Novo e a redemocratização do Brasil, flamenguistas ilustres – Ary Barroso, Bastos Padilha, Zé Lins do Rego –, se filiam à UDN – o grande partido conservador da direita. Ary Barroso foi correligionário do golpista Carlos Lacerda. No entanto, muitos associados do Flamengo ficaram com Getúlio Vargas (PTB) devido ao seu apoio a Eurico Dutra, benemérito do clube, para a presidência da República.

O jornalista Sebastião Nery, no livro Folclore Político, relatou:

“Na crise que corroía o governo de Getúlio Vargas e que antecedeu ao suicídio (1954), o flamenguista Carlos Lacerda solicitou ao general Canrobert, torcedor do São Cristóvão, que depusesse Vargas. Canrobert: “Não ajudo a botar tanque na rua (...) só se vier para o Exército tudo quanto é moção. Todo mundo pedindo, até o Clube de Regatas do Flamengo”. Lacerda levou ao pé da letra e, para surpresa do general, obteve do seu clube de coração uma moção solicitando a renúncia do presidente”...

Em 1959, o flamenguista Carlinhos Niemeyer, dono do ótimo Canal 100, é contratado pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) – de caráter privado - para exibir curtas-metragens de futebol antes dos filmes em todos os cinemas do Rio, em 35mm, em qualquer circunstância pró-Flamengo e anti-Vasco. O IPES era bancado pelo Estados Unidos para combater o “comunismo”. Agiu em favor do golpe de 1964: conspirou, pesquisou, fez documentários, filmes publicitários etc. contra o ex-presidente João Goulart.

Nos anos 70, a torcida do Flamengo adotaria uma versão da música de campanha do Governo federal, em tempos de ditadura militar: “Ó, meu Brasil\ eu gosto de você\ quero cantar ao mundo inteiro\ a alegria de ser brasileiro”... O presidente Emilio Garrastazu Médici, como Dutra, foi sócio do rival.

Os cartolas de hoje, como o presidente Rodolfo Landim e o vice de futebol Marcos Brás – ambos envolvidos em questões policiais e com a Justiça -  apreciavam a presença do amigo deles e ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (FOTO), nos jogos.

O SISTEMA

O poder do Flamengo se manifesta nas autarquias. Como em 1979, quando atropelou uma determinação do Conselho Nacional de Desportos (CND) para se sagrar tricampeão carioca em dois anos.

Milagre? Claro não...

Embora a Guanabara e o Rio de Janeiro tenham se unido em 1975, a Federação Carioca de Futebol (FCF) e a Federação Fluminense de Futebol (FFF) continuaram separadas até 1978. Em 1976 e 1977, três do interior (Americano, Goytacaz e Volta Redonda) jogaram o Campeonato Carioca, convidados, e um acordo foi costurado para que aumentasse para seis em 78. Isto não caiu bem e gerou a exclusão de Americano, Goytacaz e Volta Redonda do campeonato de 1978 (no segundo semestre). A FFF apelou à Justiça e paralisou a competição. A pendenga acabou com a intervenção do CND, que fundiu a FCF e a FFF, fazendo surgir a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ), obrigada – em 1978! – a organizar a competição unificada: o I Campeonato do Estado do Rio de Janeiro, com fase final em fevereiro de 1979: seis da capital e quatro do interior. Esta fase, porém, iria se transformar em campeonato à parte (“Especial”), já que o Flamengo propôs à FERJ – ignorando o CND - que o campeonato unificado ficasse para 1979. Motivo: o risco de ver o título da fase classificatória de 78 – 1x0 sobre o Vasco, gol de Rondinelli – varrido da história. O impasse acaba no Conselho Arbitral de 23 de janeiro de 1979, no qual o Flamengo perde por 9x8, não aceita, provoca no grito a suspensão do mesmo e a marcação de nova reunião para o dia seguinte, quando - de forma esquisita - convence o Madureira a mudar o seu voto, ganha por 9x8 e transforma a ex-fase final de 1978 num campeonato à parte em 1979. 

O Flamengo voltaria a ser favorecido pelo Governo federal em 1984. Com a publicidade, enfim, liberada pelo CND, o Vasco fechou com a “Bandeirante Seguros” um contrato curto, pontual, enquanto o rival passou a ser patrocinado pela “Petrobras” (LUBRAX). Companhia estatal – por longos 25 anos (até 2009) inundando-o com dinheiro público. O seu. O dos vascaínos. O de todos. Em 2013, outra estatal – a Caixa Econômica Federal – passou a patrociná-lo, até 2019. A atual mamata pública vem do Banco de Brasília.

Ex-executivo do BNDES, o então presidente do Flamengo, Bandeira de Mello, fechou com um patrocinador: a Peugeot. Eis que o BNDES liberou financiamento de R$ 154 milhões à Peugeot Citroën do Brasil. Em 2015, com o fim deste contrato, a Jeep (Fiat Chrysler Automobiles) passou a patrocinar o rival. Logo, foi contemplada com empréstimo de R$ 3 bilhões. Coincidência. Inclusive, porque Bandeira não era do setor comercial e nem sequer participou das negociações. 

Na Justiça e nas delegacias o Flamengo também é poderoso. Há incontáveis exemplos – como esses:

Em 1986, o Caso das Papeletas Amarelas - o presidente do clube, George Helal, admitiu que Cz$ 300 mil do clube foram parar na conta do diretor de arbitragem da FERJ, Paulo Antunes. Segundo a revista Placar tratava-se de suborno para ser favorecido contra os times “pequenos”. O Ministério Público-RJ e a policia investigaram (!), sem conclusão de que houve crime. O caixa-dois envolvia Cz$ 4 milhões e houve desdobramentos jurídicos.

Em 2019, o Assassinato do Ninho do Urubu - incêndio em containers usados como dormitório resultou na morte de dez jovens das categorias de base. Ninguém foi preso, e nem sequer o clube – os cartolas estavam cientes do risco - foi punido.

O caso tramita a passos de tartaruga na 36ª Vara Criminal.

O “ninho” se chama Centro de Treinamento George Helal.

8 de abril de 2024

                                                                  


VIVA OS ESTÁDIOS PÚBLICOS

Nenhum estádio do planeta custou tanto quanto a “Arena Maracanã” – R$ 1,2 bilhão, superfaturados – e nem foi construído por governos e logo depois repassado à iniciativa privada, em especial para clubes de futebol e, mais especificamente, em cidades onde outros clubes, rivais, excluídos da transação, pudessem se sentir prejudicados. 

A “Arena Maracanã”, ou o “novo” Maracanã, tem 78.838 lugares, mas lota com 70.000 - não figura, sequer, na lista dos vinte maiores do planeta.

A atual licitação só acontece porque o governador e flamenguista Claudio Castro (PL) descartou a possibilidade de estatizá-lo, sob a gestão da Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro (SUDERJ).

Mal sabe Castro que os grandes estádios raramente são particulares.

A maioria é estatal\ público, como o Giuseppe Meazza, em Milão, o Diego Maradona, em Nápoles, na Itália, o Los Angeles Memorial Coliseum etc.

Entre os doze maiores, cinco pertencem a governos, três a federações, dois, a universidades (EUA), um, a clube de futebol e um é particular.

A gestão do Maracanã era da Administração do Estádio Municipal (ADEM). Com a passagem da capital para Brasília, em 1960 passou a ser controlado pela Administração dos Estádios da Guanabara (ADEG). Ao ingressar já sem vida no Instituto Médico Legal, em 2010, era de responsabilidade da SUDERJ.

Doze maiores:

1) Estádio Rungrado Primeiro de Maio, em Pyongyang, Coréia do Norte (FOTO) – dono: governo federal; 2) Michigan Stadium, em Michigan, EUA – dono: universidade; 3) Melbourne Cricket Ground, em Melbourne, Austrália – dono: governo estadual; 4) Nou Camp, Barcelona, Espanha – dono: Barcelona; 5) FNB Stadium, em Johanesburgo, África do Sul – dono: prefeitura; 6) Rose Bowl Stadium, em Pasadena, EUA – dono: universidade; 7) Wembley, Londres, Inglaterra – dono: federação; 8) Estádio Azteca, Cidade do México – dono: Televisa; 9) Estádio Nacional Bukit Jalil, Kuala Lumpur, Malásia – dono: prefeitura; 10) Estádio Nacional de Lusail, Catar – dono: federação; 11) Estádio Borg El Arab, Alexandria, Egito – dono: prefeitura; 12) Estádio Salt Lake, Calcutá, Índia – dono: federação. 

7 de abril de 2024

RACISMO: O CENTENÁRIO DA RESPOSTA HISTÓRICA



Há um século, no dia 7 de abril de 1924, o presidente do Vasco, José Augusto Prestes, remeteu ao presidente da Liga Metropolitana de Sports Atheticos (AMEA) e do Fluminense, Arnaldo Guinle, uma carta – a Resposta Histórica – que rompeu a estrutura do foot-ball brasileiro. Através dela, o clube abria mão de participar do campeonato organizado pela liga dos “grandes”, com seus players e torcedores brancos. Isto porque se viu forçado a excluir 12 jogadores – a maioria de pobres e negros. Além do mais, os clubes da primeira divisão eram multiesportivos. O Vasco – campeão carioca de 1923! - só tinha o remo e deveria ser rebaixado, com Mangueira e Andarahy...

Em sua estreia na primeira divisão, em 1923, o Vasco conquistou o título com jogadores das classes populares. Não foi o primeiro a ter pobres ou pretos, mas foi o primeiro a esmagar os que se julgavam a fina flor da sociedade.

Naqueles tempos de racismo e xenofobia na capital da República – exacerbados, após os festejos pelo Centenário da Independência do Brasil (1922) - a proeza dos Camisas Negras foi tão marcante quanto a do preto Jack Johnson nocauteando o branco Tommy Burns, em 1908. Antes, o boxe era segregado no Estados Unidos. Ou a de Jessé Owens calando o Estádio Olímpico de Berlim, repleto de nazistas, em 1936.

Enquanto se derrubava um símbolo da cidade – o Morro do Castelo – pobre, luso-africana, para dar lugar ao “futuro”, surgia um time de foot-ball – o sport da modernidade – exatamente com a imagem que a elite pretendia sepultar... O Vasco expressava o triunfo da associação trem-subúrbio-pobre sobre carro importado-zona sul- vida moderna.

O regulamento da AMEA, criada por Flamengo, Fluminense e outros, não escancarava a proibição aos players de cor preta, mas incluía artigos que inviabilizavam a presença deles: vivia-se o amadorismo e os times deveriam ser formados por estudantes ou trabalhadores alfabetizados que não exercessem profissão “subalterna” (marinheiro, estivador, barbeiro, garçom etc.) ou passível de receber gorjetas. 

A Resposta Histórica se transformou em marca do Vasco, eternizando-o como defensor dos valores democráticos, da inclusão social e contra o racismo. Como observa o geógrafo Leandro Fontes, tornou público, com rara precisão e originalidade, a natureza antagônica do Vasco e dos fundadores da AMEA.

O Vasco forçou a integração dos desportistas negros e operários, algo inconcebível para os rivais naquela época. Exemplo disso foi a eleição para presidente, em 1904, do funcionário da Central do Brasil, Candido José de Araújo - o primeiro presidente negro entre os “grandes”. 

ANTECEDENTES

A Liga Metropolitana de Football (LMF) promoveu o primeiro Campeonato Carioca, em 1906. O presidente da LMF era Francis Henry Walter, um inglês ricaço, dono da firma de comércio exterior Walter Brothers & Company. Presidente do Fluminense de 1903 até 1908, ele também foi sócio, atleta e presidente do Flamengo, em 1905-1906, tendo sido, portanto, o mandatário dos coirmãos Fla-Flu ao mesmo tempo.

O glamour não resistiu a Bangu. Dos sete mil habitantes, 1.417 do bairro da zona norte batiam ponto na Companhia Progresso Industrial do Brasil. O Paiz: “torcem fervorosamente”. Surpresos com a recepção que tiveram, os “grandes” desistiram da LMF para fundar a Liga Metropolitana de Sports Atléticos (LMSA), presidida, é claro, por Francis Henry Walter.

Regulamento: “A directoria da Liga resolveu, por unanimidade de votos, que não sejam registrados, como amadores, as PESSOAS DE CÔR. (...)” - 22 de maio de 1907. 

REGATAS

Sob a influência de Botafogo, Flamengo e Guanabara, a Federação Brasileira das Sociedades do Remo (FBSR) resolveu pressionar o Vasco a partir de 1904.

Com as guarnições vascaínas formadas por imigrantes portugueses e brasileiros pobres, empregados no comércio, a FBSR tentou proibir - sem sucesso, devido à intervenção do Vasco -, que os remadores trabalhassem em hotéis, botequins, cafés, quiosques, armazéns de secos e molhados, cervejarias, confeitarias, charutarias, bilhares, casas de leite, sorvetes e bebidas, casas de barbeiro e cabeleireiro, agências de locação de criados ou bilhetes de loterias etc.

Até meados da década de 1910, o futebol era aos sábados para não competir com as regatas. 

Na era dourada do remo, de 1989 a 1914, dos 17 campeonatos os clubes do Centro levaram vantagem, com cinco títulos do Vasco (1905/06/12/13/14), quatro do Natação e Regatas (1902/07/10/11), dois do Boqueirão (1901/03) e um do Internacional (1909). O Gragoatá, de Niterói, ganhou quatro (1898/00/04/08) e o Botafogo, da zona sul, um, em 1899.

Em 1914, alegando que Claudionor Provenzano não era amador, a FBSR o elimina, mas o Vasco reverte a decisão. Claudionor não tinha a boa vida dos remadores dos rivais e recebia ajuda de custo. No fundo, uma reação da elite – no ano seguinte, é baixada uma das leis mais antiesportivas do mundo, a “Lei Hour Concours”, segundo a qual são excluídos da prova que decide o campeonato (yole-8) quaisquer remadores com dois ou mais títulos. Só afetou os vitoriosos: naturalmente o Vasco, tricampeão.

ENTRELINHAS

A LMF foi dissolvida no final de 1907, por questões esportivas envolvendo Fluminense e Botafogo, mas quase nada mudou com a inauguração da Liga Metropolitana de Sports Atheticos (LMSA): players de cor preta e brancos pobres continuavam preteridos. As invés de proibirem de forma direta, os passam a se utilizar dos estatutos, graças a regras que davam margem para interpretações de uma comissão de sindicância.

Em 1917, a LMSA vira Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT) e o estatuto apresenta uma novidade para ajudar o trabalho da comissão de sindicância: o analfabetismo torna-se um quesito para impedir a entrada ou excluir jogadores. No início do século XX, a maior parte da população brasileira era analfabeta, especialmente os de pele preta.

PRIMEIROS CHUTES

O Vasco institui o seu departamento de futebol em 1916. Estreia na terceira divisão da LMSA e só chega à primeira divisão em 1923. Diferente do Flamengo, que estreou - quatro anos antes, em 1912 - na mesma LMSA, diretamente na primeira divisão - graças à intervenção do poderoso (na época) Fluminense.

Enquanto a principal liga – a LMDT - era controlada pelos “grandes”, havia outras, como a Associação Athletica Suburbana e a Liga Suburbana de Football. Jogos no campo do Jardim Botânico reuniam multidões. Foi neste celeiro que o Vasco montou o seu time – o critério de escolha era ser bom de bola, seja qual fosse a cor, a etnia ou a condição financeira.

Inclusão social que acontecia desde sempre, no remo.

O Vasco da Rua Santa Luzia abria suas portas aos jogadores dos clubes pequenos e agremiações dos subúrbios, e, a cada ano, os Camisas Negras se qualificavam. Em 1921, o clube alugou o campo da Rua Morais e Silva, na Tijuca, ao Sport Club Rio de Janeiro, para treinos e jogos.

SEGUNDA DIVISÃO

O ano de 1922 marcou o Centenário da Independência do Brasil, tempo em que a intelectualidade e mesmo o Estado pregavam a teoria racial do embranquecimento da sociedade. Crescia o preconceito contra imigrantes portugueses - em sua maioria, pobres e de baixa instrução: os vascaínos... Foi neste cenário que o Vasco – com um time repleto de players negros e pobres – conquistou o título carioca da segunda divisão.

Para subir à primeira divisão, o campeão da segunda (Vasco) teria de vencer o último da primeira (São Cristóvão). A 5 de novembro de 1922, o jogo ficou no 0x0, o que provocava a realização de um tira-teima.

Uma questão atravessou o campeonato: a LMDT recebera denúncia de que Leitão, do Vasco, era analfabeto e sua inscrição estaria irregular. Ele foi convocado a escrever uma carta - diante dos cartolas. Ao fim, o Vasco perdeu os pontos do 8x3 no Carioca F.C. e isso lhe tirava o título.

Leitão enviou uma carta à liga solicitando outra prova, a fim de comprovar não ser analfabeto. Os elitistas mal sabiam que o player tivera aulas de Língua Portuguesa. A imprensa se posicionou a favor do Vasco.

Depois de muita briga, a LMDT resolve não organizar o jogo-desempate, decreta o América campeão do Rio de Janeiro, não rebaixa o São Cristóvão e o Vasco obtém o acesso à primeira divisão.

ALFABETIZAÇÃO

Logo em sua estreia na primeira  divisão, o Vasco conquista o título de campeão carioca de 1923. Em campo, com uma campanha avassaladora. Fora de campo, graças ao associado Custódio Moura. Bibliotecário do clube, ele  ensinava, de graça, os jogadores a ler e a escrever. A LMDT perseguia os vascaínos por causa do analfabetismo e seus cartolas frustraram-se quando os players, mesmo que sem boa ortografia, escreveram os dados solicitados e o pedido de inscrição.

No primeiro Clássico dos Milhões, Vasco 3x1, de virada, na Rua Paysandu, o Flamengo tentou - sem sucesso - anular o jogo na LMDT sob a alegação de que o rival teria escalado um analfabeto, em condição irregular. 

O Correio da Manhã toma partido do time da zona sul:

"Vai ser levantada hoje, no Conselho da Primeira Divisão, a questão da legalidade do registro do jogador do Vasco da Gama, João Baptista Soares, o Nicolino, que jogou contra o C.R. Flamengo. Segundo se diz, esse jogador não tinha o prazo de inscrição necessário, por isso que, tendo sido cancelado o seu registro por analfabetismo, requereu exame de suficiência, o qual provou saber ler. A data válida é a do exame de suficiência e, segundo ela, o Vasco não o podia ter incluído no team".  

REVOLTA DAS ELITES

Após a conquista do título de 1923 pelos Camisas Negras, os clubes da elite rompem com a LMDT e criam a Associação Metropolitana de Esportes Atheticos (AMEA), cuja comissão organizadora trabalhava na sede do Fluminense. Fundadores: América, Botafogo, Flamengo, Fluminense e o Bangu. O Vasco, então o campeão, com a maior torcida – e as maiores rendas – foi sumariamente excluído.

A comissão na AMEA se reuniu a 30 de março de 1924 e decidiu solicitar que o Vasco excluísse 12 de seus jogadores. O objetivo era impedi-lo de ser campeão com jogadores das camadas populares. O presidente do Vasco, José Augusto Prestes, ainda participou de uma reunião com a comissão organizadora, em uma última tentativa para dissolver o impasse.

Deu errado. No dia seguinte, a AMEA fez publicar nos jornais as resoluções que colocavam o Vasco em desvantagem. Queriam-no sem os pretos e pobres, em posição secundária. A 7 de abril de 1924, com o apoio unânime da diretoria,  José Augusto Prestes assinou o Ofício n.º 261 - a “Resposta Histórica”.

O Clube desistia de fazer parte da AMEA e ficaria com seus jogadores.

SÃO JANUÁRIO

Vasco e Flamengo já tinham seus terrenos – um comprado (665.895 contos de réis por 65.445m quadrados, em São Cristóvão); o outro, invadido. A alegação de que o Vasco não estava à altura dos “grandes” por não ter um estádio levou os vascaínos a inaugurarem São Januário, em 1926, o maior da América do Sul (até 1930), do Brasil (até 1939) e do Rio (até 1950).

Definitivamente, o clube mudava de endereço, do Centro da cidade para a zona norte.