9 de dezembro de 2023


DEZ ANOS DO CASO HÉVERTON: QUEM COMPROU A LUSA?

Em 2013, o Fluminense (ou o Flamengo) estava prestes a cair para a Série B do Brasileirão quando, na última rodada, jogavam no Canindé, em São Paulo, Portuguesa x Grêmio - amistoso de luxo, sem valor para a classificação. Se tratava de um confronto sem graça (0x0) quando o técnico Guto Ferreira, do time local, promoveu uma estranha substituição: aos 32' do segundo tempo, mandou a campo Héverton, em condição irregular - ele estava suspenso dois jogos e tinha cumprido só um. 

Alguns dias depois, a Portuguesa iria perder quatro pontos em um julgamento no STJD, sendo por causa disso rebaixada para nunca mais voltar. 

Prevaleceu a versão de que foi um caso inédito de colapso mental coletivo porque nem Héverton, nem Guto Ferreira, nem os cartolas ou a imprensa se deram conta da ilegalidade. Nesta última rodada - logo a última! - dois jogadores serem flagrados em condição irregular é também algo que nunca se tinha visto.  

Outra hipótese é a do Ministério Público\SP: a escalação deu-se por vantagens financeiras (suborno) a alguns funcionários da Lusa. Certos promotores, se vendo formidáveis em tempos de Lata Jato, até chegaram a estipular valores: de R$4 milhões a R$20 milhões, noticiou O Estado de S. Paulo.

As investigações chegaram ao fim com os mesmos promotores incapazes de esclarecer quem comprou ou quem se corrompeu, apesar de o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (GAECO) ter quebrado o sigilo bancário de vários funcionários da Portuguesa. 

REVIRAVOLTA

A Lusa caiu no lugar do Flamengo (16o lugar), que, um dia antes, cometera o mesmo erro ao escalar André Santos contra o Cruzeiro. Caso Héverton e André Santos não tivessem entrado em campo, o rebaixado seria o Fluminense – como noticiado pelos jornais no dia seguinte à última rodada – na companhia de Vasco, Ponte Preta e Náutico.  

Antes de Flamengo x Cruzeiro, sábado, parte da FlaPress até divulgou que André Santos, suspenso, não poderia ser escalado. Pois bem: ele jogou e não se viu uma e escassa linha sobre o assunto no dia seguinte. Nada, em qualquer mídia.

Anos depois, o vice de futebol Wallim Vasconcellos iria revelar que advogados do clube - cujo vice jurídico era Flavio Willeman - tinham estado no julgamento de André Santos na sexta-feira (véspera de Flamengo x Cruzeiro) e o liberaram para o jogo. 

Àquela altura, Vasconcellos já estava certo de que o Flamengo não seria rebaixado.     

Só alguns dias depois foram confirmadas as escalações irregulares - do Flamengo sábado... da Portuguesa domingo.

A CBF acionou o STJD.

O silêncio protetor da FlaPress em relação à escalação irregular de André Santos iria terminar quarta-feira, quando constatou-se que a Portuguesa cometera igual delito.  

JULGAMENTO

Um toque de bizarro no julgamento é que o presidente da Portuguesa, Manuel da Lupa, dispensou o escritório de Direito que representava o clube paulista no STJD e contratou para a defesa o advogado e flamenguista de sete costados Michel Assef Filho.      

Dezenas de torcedores do Fluminense foram à porta do STJD, no Centro do Rio, pressionar os jurados - ameaçando-os. Depois, festejaram a permanência na Série A zombando a Portuguesa de forma cretina, contaminados pelo ódio que exalava da política partidária. 

Até hoje, o Caso Héverton permanece um mistério. Inclusive na Portuguesa: sem que houvesse uma apuração interna rigorosa, ninguém foi punido. 

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