MINHA PRIMEIRA VIAGEM COM A FORÇA
Paulo Murilo Valporto
O Corinthians 2x2 Vasco, dia 27 de janeiro de 1985, estreia no Brasileirão daquele ano, foi o primeiro jogo que vi no Morumbi e, também, minha primeira excursão com torcida organizada. Aos 16 anos, precisei da autorização do meu pai e isso foi resolvido apesar da falta de bom senso do Beto Metralha, que, lá em casa, se apresentou de forma peculiar: "Boa noite, eu sou o famoso Irmão Metralha da Força Jovem. Não se preocupe, o seu filho estará seguro".
... O contrário do que tínhamos combinado.
Apesar do susto, ouvi meu pai dizer: "Faça o que manda sua consciência".
Eram quatro ônibus, dois da Força Jovem, um da TOV e outro das demais torcidas. Saída: meia noite da Avenida Rio Branco.
Chegamos muito cedo, joguei bola em uma praça no Centro deserto de São Paulo com os locais antes de seguirmos para o Morumbi.
Aí começou o drama.
Nós, imprensados na parte de baixo de uma pequena rampa, enquanto uma multidão de componentes da Gaviões da Fiel impedia a passagem, fazendo ameaças e falando uma espécie de dialeto paulistano.
Na Força Jovem a maioria era adolescente como eu. Os corintianos não, eram adultos.
Os Metralhas - Beto e Armindo, irmãos gêmeos - quando iam para a direita, eu ia atrás; quando avançavam, eu partia para dentro; ao recuarem eu saía correndo - eis a minha tática nos conflitos.
Mas nem dava para sair do lugar.
A paz estava por um fio, a torcida imprensada: tragédia à vista.
Foi então que a tia Dulce Rosalina, da Renovascão, surgiu, avançou e tomou a vanguarda. Sozinha, no espaço vazio entre as torcidas rivais. Teriam de passar sobre o cadáver dela - um gesto heroico.
Por sorte - não existia telefone celular e nem internet - do outro lado apareceu a Tia Elisa - torcedora símbolo do Corinthians. As queridas tias se abraçaram. Pediram calma com as mãos e todos aplaudiram.
Eu bati palmas, sem dúvida.
Considerando que havia, no máximo, uns cinco PMs na contenção, demos sorte.
Os corintianos - e não a polícia - abriram um pequeno espaço para que chegássemos na arquibancada. A proximidade era tanta que tentaram roubar uma baqueta, mas não conseguiram.
Sobre o jogo, lembro que o Vasco foi melhor, mas só empatou no finalzinho - gols de Cláudio Adão. Em ação estavam os meus três ídolos na época: Roberto Dinamite, Geovani e Mauricinho.
Na volta não teve briga e nem quebraram com pedradas os vidros dos nossos ônibus, como em geral acontecia.
Enfim, uma viagem agradável.
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