9 de maio de 2024

CUIDADO COM O VENENO DA FLAPRESS

Com o propósito de desqualificar o ‘Consórcio Maracanã Para Todos’, o site globoesporte.com lançou, na tarde desta quinta-feira (9-5), uma fake News. Manchete: Proposta de Vasco e WTorre pela licitação do Maracanã previa até 10 shows por ano e venda de naming right. O antídoto contra o veneno está no oitavo parágrafo: a previsão é de DOIS shows e 75 jogos nos primeiros CINCO anos de contrato, ou seja, até o final de 2029.

EXATAMENTE DOIS SHOWS aconteceram em 2023 na gestão provisória dos coirmãos Fla-Flu, que, assim, puderam encher os seus cofres graças a Paul McCartney e Ivete Sangalo. Os clubes da zona sul defendem, com toda razão, que o excesso de espetáculos musicais pode causar danos no gramado.

O ‘Consórcio Maracanã Para Todos’ propõe DEZ shows só a partir de 2030 – isso, considerando a redução do número de jogos de 75 para 40 - no caso de Flamengo e Fluminense – por razões, hoje, inexistentes - desistirem de usar o estádio - porque o contrato diz que o futebol é prioritário.

O agente da FlaPress tem o disparate de cravar uma “média” (sic) de oito shows por temporada, entre 2024 e 2044 ao preço de R$ 1 milhão cada um, sem variação alguma em vinte anos. Para contar vantagem em nome dos queridinhos do sistema, ressalta que a previsão do ‘Consórcio Fla-Flu’ é de um único show a cada ano.

A reportagem tentou encontrar na proposta do ‘Consórcio Maracanã Para Todos’ alguma referência à possível implantação da amaldiçoada grama sintética e nada. O jeito foi o contorcionismo: o gramado, diz o texto, irá receber um “preparo” para encarar os shows... da próxima década.

A comissão de licitação da Casa Civil do Governo do Rio de Janeiro, cujos membros – QUEM SÃO? - foram indicados pelo flamenguista e governador Claudio Castro, rasgou o edital bolado por eles próprios ao vetar Santos e Brusque no consórcio que reúne WTorre e Vasco.

Para a FlaPress, isso é pura bobagem.

Sobre a paridade entre as “propostas financeiras” – a do ‘Consórcio Maracanã Para Todos’ foi de R$ 20.000.777,28\ano e a do ‘Consórcio Fla-Flu’, de R$ 20.060.874,12\ano -, o globoesporte.com não desconfia de vazamento de informação. Aposta que foi só coincidência. Coisas do destino...

A licitação, fraudulenta, será resolvida na Justiça.


FRAUDE NO MARACANÃ: OS CANALHAS (I)

Ao fazer o cidadão – especialmente os vascaínos – de palhaço – por crer em uma licitação de cartas marcadas – o Governo do Rio de Janeiro anunciou, na última quarta-feira (8\5) a vitória do ‘Consórcio Fla-Flu’, para administrar o Maracanã até 2044. Com tantos indícios de fraude – adiamentos, vazamentos, conchavos, coincidências etc. - o ‘Consórcio Maracanã Para Todos’ deve ir à Justiça para reverter a decisão em seu favor.

Representantes do Vasco e da empresa WTorre no Palácio Guanabara, em nome do consórcio derrotado (de véspera), não aceitaram o desfecho e fizeram constar o protesto em ata.  

Questionado sobre a disponibilidade do Maracanã para outros clubes, o vice-presidente Jurídico do Flamengo, Rodrigo Dunshee de Abrantes, expressou, com a sua fala, o perfil dos que planejam usurpar o estádio público:

“Deve haver intervalos de ao menos 48 horas e o ideal são 72 horas entre os jogos. Questões que continuarão debatidas, de boa fé (1). Flamengo e Fluminense não vão impedir ninguém de jogar no Maracanã (2), mas tem que ser de forma que preserve o gramado (3), o interesse da população (4) e o do torcedor (5)”.

1. “Boa fé” não há. O Vasco procurou mais de uma vez os rivais em busca de negociações por uma gestão compartilhada e foi repudiado. O propósito é sabotar – isso a partir de 1923 – o clube da zona norte, de perfil mais popular.

2. Desde 2019 os coirmãos administram (provisoriamente) o Maracanã. Neste período, quase todos os jogos do Vasco no estádio só aconteceram porque o clube buscou seus direitos na Justiça.  

3. Flamengo e Fluminense disputam a cada ano 60 jogos e os cartolas desses clubes culpam os cinco ou seis jogos do Vasco por danos no gramado...

4. Ao citar “população”, ele se refere aos adeptos dos clubes que carregam no passado a mancha suja do racismo – Fla e Flu.  

5. Não para o torcedor vascaíno, há anos sendo maltratado em um estádio público. Caso o resultado da licitação seja mesmo confirmado na Justiça, a sina continua.

SOCO NA MESA

Em 2019, o Flamengo gastou mais de R$ 250 milhões no seu futebol – recorde – mas se negou a pagar indenizações justas às famílias dos dez jovens que, vítimas de um incêndio por negligência, morreram na concentração do clube, o Ninho do Urubu. Esta ação de extrema avareza teve um mentor: Dunshee, o vice jurídico.

“O Flamengo não barganha com a vida dos meninos”, bradavam os cartolas nos dias seguintes à tragédia (8\2).

Segundo a defensora pública Cíntia Guedes, o Flamengo pretendia resolver a questão pagando um valor fixo às família. O documento estava pronto, bastavam as assinaturas quando o clube recuou. O presidente Rodolfo Landim coçou a testa: “O que a gente não pode é pagar um valor estratosférico que iria afetar tremendamente”...

Uma nova reunião no Ministério Público-RJ foi marcada para acertar os valores. Para a mãe de Arthur Vinícius, Marilia Barros, tal encontro foi mais triste do que o próprio enterro do filho.

Os parentes esperavam Rodolfo Landim – até imaginaram que lhes pediria desculpas -, mas ele tinha mais o que fazer. Dunshee surgiu repentinamente e sem proposta alguma: “Não fico mais de 15 minutos”.

Foi quando Cristiano Esmério, o pai do falecido Christian, socou a mesa.

Mães passaram a chorar no corredor. Então Dunshee virou as costas e foi embora com a sua turma, enterrando de vez a negociação coletiva. Sobre quem é o responsável pelas mortes: “Eu não me sinto”.  

A maioria das famílias foi vencida pelo sofrimento e pelo cansaço, ao aceitar – meses depois - a barganha que Dunshee tinha largado sobre a mesa.

+ Oito pessoas respondem na Justiça por dez homicídios culposos e três crimes de lesão corporal. Por enquanto, a culpa é do raio.   

8 de maio de 2024



VASCO x FLA-FLU: QUESTÃO DE BERÇO

A origem dos clubes – na virada entre o século XIX e o século XX - que disputam a licitação do Maracanã (até 2044) explica a posição de cada um: a proposta do ‘Consórcio Maracanã Para Todos’ – do Vasco e da WTorre – é includente, popular; a do ‘Consórcio Fla-Flu’ elitizada, por contemplar os coirmãos da zona sul e só. Os vascaínos, desde 2013 – quando o estádio passou a ser gerido pelos rivais, na época, em parceria com a Odebrecht – são covardemente discriminados.

Querem separar a população em dois grupos.

Um com cidadania plena – os rubro-negros e tricolores - pode frequentar o Maracanã - o palco mais simbólico do futebol. O outro, o da torcida do Vasco – mais popular e muito superior em tamanho à torcida do Fluminense – é condenado a ser visitante em sua própria casa porque os usurpadores não tratam o estádio como bem público.

IDENTIDADES

O Flamengo é fundado a 17 de novembro de 1985. Logo, troca a “fundação oficial” para 15 de novembro, junto ao feriado da Proclamação da República. As cores mudam, em 1896, de azul e ouro – tecidos difíceis de encontrar - para preto e vermelho. O Vasco sempre foi de 21 de agosto de 1898. Na bandeira, o preto representa os mares nunca antes navegados, o fim do mundo e as mortes no caminho. A faixa branca é a rota do navegador, e a cruz a fé do povo português (o Flu imita o Fla: surge, em 1902, cinza e branco, e só depois adota o tricolor).

FUNDAÇÃO

Em 1895 numa reunião de jovens da burguesia – estudavam e se divertiam – no Largo do Machado, nasce o C.R. Flamengo, tendo como garagem um casarão na Praia do Russel, 22 (Praia do Flamengo), área nobre, vizinho ao Palácio do Catete, a residência do presidente da República. Um dos motivos é que, em 1894, o C.R. Botafogo tinha sido fundado e seus remadores cortejavam as moças do bairro Flamengo. Já o Vasco surge em 1898, em um sobrado alugado na Rua da Saúde, 127 (Gamboa), fundado por portugueses e descendentes, alguns donos de pequenos comércios e a grande maioria de assalariados em lojas no Centro, zona norte e subúrbios.

REALIDADES

Remadores do Flamengo viviam da mesada dos pais e, às vezes, usavam o píer da presidência da República para lançar os seus barcos na Baía de Guanabara. Já o primeiro presidente do Vasco renunciou em 1899, levando quase todos os barcos para fundar o C.R. Guanabara, em Botafogo.  

Enquanto nos clubes dos ricos da zona sul não era admissível o convívio com pobres, no Vasco, eles formavam a maioria. A elite também mantinha forte rejeição aos portugueses. Esses clubes faziam questão de se apresentarem como os que “reuniam os filhos das melhores famílias”, e cobravam altas mensalidades. O Vasco, não. Daí os associados terem recusado a transferência da sede para Botafogo, preferindo se reinventar na região portuária. 

VASCO: ORIGEM

Nei Lopes: “O Vasco nasceu no lugar e no momento em que se gestava o melhor da cultura carioca, com sua música, sua dança e sua religiosidade. Morava perto Hilário Jovino, o fundador do rancho carnavalesco, célula-mãe das escolas de samba; os pais de santo João Alabá e Cipriano Abedé, a partir dos quais se estabeleceram no Rio os candomblés da Bahia; Tia Perciliana, mãe de João da Baiana, um dos pais da MPB. (...) a convivência entre europeus e descendentes de africanos naquela região se deu sem maiores conflitos. Vem-nos daí a ideia de que por isso que a Cruz-de-malta pulsou e pulsa no peito de tantos sambistas, e a relação é enorme”.

FLA: ORIGEM

O jornalista João do Rio, em 1916, escreveu a respeito da representatividade social do rival: “Fazer sport há vinte anos ainda era uma extravagância. (...) Rapaz sem um pince-nez, sem discutir literatura dos outros, sem cursar as academias era um estragado. E o Club de Regatas do Flamengo foi o núcleo de onde irradiou a avassaladora paixão pelos sports”.

FLU: ORIGEM

O Fluminense inaugura o foot-ball no Rio de Janeiro em 1902, dando ao esporte um perfil elitizado. O fundador e primeiro presidente foi Oscar Cox, filho de diplomata inglês, mas quem forjou a identidade tricolor foi o milionário Arnaldo Guinle, o presidente de 1916 a 1931 e de 1941 a 1943. Também presidiu a CBD de 1916 a 1920 e a AMEA em toda sua existência, entre 1924 e 1933. A Família Guinle lucrava com o Porto de Santos - era a dona do terreno do clube, do vizinho Palácio Guanabara e muito mais.

PIONEIRISMO

A partir dos clubes de remo nascem todos os outros. O pioneiro é o Grupo dos Mareantes, de 1851. A prefeitura do Distrito Federal, em 1905, inaugurou um pavilhão de ferro na Enseada de Botafogo, na recém-construída Avenida Beira-Mar. Apogeu: inglês como o foot-ball e acessível ao povo e à elite.

BOTA-ABAIXO

A multimilionária Família Guinle se beneficiou da Reforma Passos adquirindo terrenos antes ocupados por cortiços e casebres no Centro da cidade, conta Darcy Ribeiro. Revolta popular. Um projeto de cidade perverso era gestado. A nova zona sul recebe as melhorias que beneficiarão moradores dos palacetes de Laranjeiras, Flamengo e Botafogo. À população pobre, restaram os bairros da zona norte e subúrbios. Os clubes náuticos, como o Vasco, são despejados, e suas praias desaparecem aterradas: do Russel, da Ajuda, de Santa Luzia, de Dom Manuel, do Peixe, da Prainha, da Gamboa etc.

CARTOLA

O Vasco é o único dos “grandes” do Rio de Janeiro que já teve um presidente preto: Cândido José de Araújo, o Candinho, em 1904, antes da implantação do futebol, e 16 anos após a Abolição da Escravatura. O Fluminense – e o coirmão, o Flamengo – jamais tiveram. 

UNIDOS PARA SEMPRE

Por não praticarem os mesmos esportes, até 1911 havia sócios de ambos os clubes (Fla-Flu). Em 1902, flamenguistas - inclusive o seu presidente - assinaram a ata de fundação do Fluminense, na Rua Marquês de Abrantes, bairro Flamengo. De 1905 a 1906, tiveram o mesmo presidente: o inglês Francis Henry Walter. O Flu repassou ao Fla o terreno do Morro da Viúva, em 1935. O futebol rubro-negro nasceu na Rua Paysandu, terreno da família Guinle, tricolor. Ou seja, flamenguistas ajudaram a fundar o rival e tricolores criaram o futebol do Flamengo, capitaneados pelo traidor Alberto Borgerth, remador do Fla e player do Flu.

DEMOLIÇÕES

O Flamengo tinha sede e garagem num casarão em área nobre (hoje, Praia do Flamengo, 66) e sempre obteve favores públicos. O Vasco passou sufoco até a inauguração de São Januário, em 1927. A sede pioneira era um barracão na Ilha das Moças, na Gamboa. As primeiras sumiram: Ilha das Moças, aterrada; as do Largo da Imperatriz e Travessa Maia, demolidas na construção do Palácio Monroe. Por fim – com o estádio já de pé - a da Rua Santa Luzia caiu em 1942.

BACANAS

Sobre as condições de mobilidade urbana em 1917, João do Rio explicou: “A gente de Botafogo tem só de se dar com a gente de Botafogo [Laranjeiras\Flamengo] e a gente do subúrbio com a gente do subúrbio. As estações de trem da Central do Brasil têm contexto amplo, constatou Olavo Bilac, em A Notícia: “Cada uma tem o seu teatro, o seu parque, o seu cinematógrafo e o seu club”.

TORCIDA RIVAL: TEORIAS FAKE

A torcida do Flamengo cresceu com a FlaPress, com o profissionalismo em meados da década de 1930, pela visão de marketing do seu presidente Bastos Padilha. Antes, não. Há teorias sobre a origem da popularidade que camuflam o DNA elitizado. Ruy Castro: o rival já nasceu popular e a rivalidade com o Vasco – “time dos portugueses” – no remo a alavancou. Ocorre que o rubro-negro não tinha apelo popular e nem tampouco rivalidade com o Vasco no remo, dada a imensa superioridade dos vascaínos. Outra teoria delirante é da FlaPress, baseada em Mario Filho: os treinos na Rua Paysandu – área nobre - eram franqueados e os players corriam nas ruas... Ora, a torcida era a fina flor da sociedade, segundo A Gazeta de Notícias etc.

RACISMO INTIMIDA

Caso emblemático é o de Carlos Alberto, que em 1914 trocou o América pelo Fluminense (as maiores torcidas): num jogo em Campos Sales, ele passou tanto pó de arroz que ficou quase cinza. Da geral, os rubros o acusaram de fazê-lo para embranquecer a pele. Zombavam: “Pó de arroz! Pó de arroz!”. A acusação alastrou-se como insulto até virar, muito depois, motivo de orgulho dos tricolores, que reagiam chamando os americanos de “pó de mico” e os vascaínos na década seguinte de “pó da pérsia” (vermífugo). Carlos Alberto logo foi mandado embora: justa causa. Mario Filho: “O Fluminense (...) queria ser mais do que os outros, mais chique, mais elegante, mais aristocrático. O pó-de-arroz pegou feito visgo”.

TIME DOS MÉDICOS

Dos onze titulares do Flamengo em 1914, nove estudavam Medicina, um Direito e outro não estudava nada, mas era rico, do contrário não teria sido aceito no Fluminense e nem estaria em meio aos atletas rubro-negros. O futebol refletia a ordem social. Daí ser inconcebível a um pobre, semianalfabeto, competir esportivamente – ou mesmo conviver - com um futuro doutor.

ESPÍRITO DO TEMPO

Em 1916, um artigo na revista Sport retrata o sentimento dos rivais do Vasco, nas primeiras décadas do século XX: “(...) Frequentamos uma academia, temos uma posição na sociedade, fazemos a barba no Salão Naval, jantamos no Rotisserie, visitamos as conferências literárias, vamos ao Five O’clock; mas quando nós resolvemos a praticar esporte às vezes somos obrigados a jogar com um operário, limador, mecânico, chofer e profissões que absolutamente não estão em relação ao meio onde vivemos. Nesse caso a prática torna-se um suplício, um sacrifício, mas nunca uma diversão”.

LEI HOUR CONCOURS

Até meados da década de 1910, o futebol era aos sábados para não competir com as regatas. Na era dourada, de 1989 a 1914, dos 17 campeonatos os clubes do Centro levaram vantagem, com cinco títulos do Vasco (1905/06/12/13/14), quatro do Natação e Regatas (1902/07/10/11), dois do Boqueirão (1901/03) e um do Internacional (1909). O Gragoatá, de Niterói, ganhou quatro (1898/00/04/08) e o Botafogo, da zona sul, um, em 1899.

Na impossibilidade de serem campeões de remo, em 1915 Flamengo, Botafogo e Guanabara aprovam, na FBSR, uma das leis mais antiesportivas do mundo, a “Lei Hour Concours”, segundo a qual são excluídos da prova que decide o campeonato (yole-8) quaisquer remadores com dois ou mais títulos. Só afetou os vitoriosos, particularmente o Vasco, tricampeão.

GENTE FINA

No futebol, o Vasco estreou na terceira divisão da LMSA (futura LMDT, LCF e, atualmente, é a FERJ) e só chegou à primeira divisão em 1923. Diferente do Flamengo, que estreou no futebol - quatro anos antes, em 1912 - na mesma LMSA, diretamente na primeira divisão - graças à intervenção do poderoso (na época) coirmão Fluminense.


IMAGEM - berço do Fluminense

7 de maio de 2024


MARACANÃ: UMA TRAPAÇA ANUNCIADA 

Passado para trás pelo governador e flamenguista Claudio Castro e seus comparsas, o Vasco – em nome do ‘Consórcio Maracanã Para Todos’ – ingressou no Tribunal de Justiça-RJ, nesta terça-feira (7\5) à noite, com um mandado de segurança pela impugnação da licitação, cujo fim estaria previsto para quarta-feira (8\5), HOJE, em uma cerimônia no Palácio Guanabara: a encenação do repasse da gestão – e dos lucros – por vinte anos a Flamengo e Fluminense, os amiguinhos da zona sul.

Como parte do golpe, a comissão de licitação da Casa Civil – indicada por Claudio Castro – até acatou uma parte das solicitações contidas no pedido de impugnação que o ‘Consórcio Maracanã Para Todos’ fizera em abril, aumentando em quatro pontos a sua nota – de 81 para 85 - na “proposta técnica”, o que, de forma alguma, mudaria o resultado, pois o ‘Consórcio Fla-Flu’ obteve inalcançáveis 116 pontos neste quesito.

O ‘Consórcio RNGD’ – encabeçado pela Arena 360, gestora do Estádio Mané Garrincha, em Brasília – e a Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) também pediram a impugnação, sendo ignorados pelos comissários.

O advogado Rodolpho Heck Ramazzini, da ABCF, explicou:

“O processo está 100% viciado e direcionado de maneira muito clara a um dos concorrentes, o ‘Consórcio Fla-Flu’, em detrimento da isonomia de tratamento e da lisura (...). Se tais vícios não forem sanados, iremos às últimas instâncias, seja na Justiça Comum, ou em tribunais superiores para que o interesse público seja atendido e a moralidade esteja presente na concessão desse patrimônio do futebol mundial”.  

LAMBUJA

Os quatro pontos que aumentaram a nota para 85 - como se houvesse boa vontade dos indicados por Claudio Castro - não se relacionam a Santos e Brusque, cujas presenças na proposta do ‘Consórcio Maracanã para Todos’ esses mesmos comissários rejeitaram.

Caso a participação de Santos e Brusque seja acolhida – como prega a lei - a proposta do ‘Consórcio Maracanã Para Todos’ terá a sua nota acrescida de trinta pontos – de 85 para 115. Neste caso, considerando a diferença de um ponto apenas (116 x 115) na "proposta técnica" (60%), ganharia a concorrência porque a “proposta financeira” (40%) é muito superior à do ‘Consórcio Fla-Flu’.

O edital é burlado quando há uma única proposta viável – a dos favorecidos de sempre.

CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÃO NO CERTAME – 8.1 - Poderão participar da licitação pessoas jurídicas nacionais ou estrangeiras, isoladamente ou reunidas em consócio, cuja natureza e objeto sejam compatíveis com sua participação na licitação.

Era impossível incluir jogos de Flamengo e Fluminense - o que seria natural, afinal a proposta do ‘Consórcio Maracanã para Todos’ é o estádio aberto a qualquer um, com isonomia, sem discriminação (ao Vasco) e sem os privilégios que, desde 2013 – fortalecidos em 2019 - favorecem os gestores provisórios (Fla-Flu).

15 de abril de 2024


TRAPAÇA NA LICITAÇÃO DO MARACANÃ

O edital de licitação do Maracanã é uma arapuca. No documento proposto pelo flamenguista e governador Claudio Castro, para obter a nota máxima na “proposta técnica” – a de maior peso - seria necessário apresentar 70 datas de jogos por temporada. Os números (vazados na FlaPress) indicam a vitória do ‘Consórcio Fla-Flu’ por 117 x 81 sobre o ‘Consórcio Maracanã Para Todos’, que inclui o Vasco, já que a comissão de licitação – escolhida por Castro – desconsiderou possíveis jogos de Santos e Brusque, sob a alegação de que eles não estão sediados no Rio de Janeiro.

Este veto contraria o próprio edital, e inviabiliza qualquer outra proposta que não seja a dos coirmãos da zona sul - ou seja: uma trapaça.

Para completar 70 jogos, ou perto disso, o Vasco não poderia ter como aliados Bangu, Olaria ou América – times cariocas - porque somente os clubes das séries A e B do Brasileirão têm direito a se credenciar à licitação.

Também era impossível incluir jogos de Flamengo e Fluminense, o que seria algo natural – a proposta do ‘Consórcio Maracanã para Todos’ é o estádio aberto a qualquer um, com isonomia, sem discriminação (ao Vasco) e sem os privilégios que, desde 2019, favorecem os gestores provisórios (Fla-Flu).

Em qual estádio eles jogariam, além do Maracanã, no caso de uma – mais que provável – vitória da proposta do ‘Consórcio Maracanã Para Todos’?

... Rua Bariri? Luso-Brasileiro? Laranjeiras? Brasília? Juiz de Fora?!

Sobre quem pode participar da concorrência, consta no idem 8 do edital – CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÃO NO CERTAME – 8.1 - Poderão participar da licitação pessoas jurídicas nacionais ou estrangeiras, isoladamente ou reunidas em consócio, cuja natureza e objeto sejam compatíveis com sua participação na licitação.

A justificativa da comissão de licitação é absurda:

“O licitante (Vasco) (...) No que se refere às datas pertencentes a Santos e Brusque, é forçoso reconhecido que as mesmas não se prestam a cumprir às exigências do edital, uma vez que se trata de entidades sediadas em outros Estados da federação”.

O contorcionismo prossegue, tomando por base normas da CBF e ignorando que a Vila Belmiro, o estádio do Santos, será fechada para reforma. O clube paulista tem tradição (e glórias) no Maracanã desde o tempo de Pelé.

“(...) que tal condição impõe aplicação de restrições prescritas em regimentos da CBF, notadamente o Regimento Geral de Competições (RGC), que textualmente reconhece como excepcional a transferência de uma partida de futebol, da união federativa que tal clube está vinculado”.

CHANTAGEM

Sempre que é contrariado sobre o Maracanã, o Flamengo responde que vai abandoná-lo e construir um estádio próprio – na Barra da Tijuca, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Ilha do Governador, Gávea ou Caju – nunca o faz – é jogo de cena para encobrir a real intenção de apoderar-se eternamente do patrimônio público.

A primeira vez em 1957: contrariado com o preço dos ingressos no Maracanã, que eram definidos pelos deputados do então Distrito Federal, Hilton Santos, o presidente, ameaçou reformar a Gávea.

Com a situação do Maracanã indefinida após a desistência da Odebrecht, em 2017, começou a chantagem (arma de covardões): o prefeito Marcelo Crivella autoriza o Flamengo a construir um estádio para 25 mil torcedores, na Gávea. Em setembro, o rival assina a opção de compra de um terreno entre a Avenida Brasil e a Linha Vermelha.

A mensagem é clara: sem nós, o que será do Maracanã?

Sobre o coirmão Fluminense, em 2000, o governador Anthony Garotinho propôs financiar um estádio para 45 mil na Barra da Tijuca, a ser dividido com o Botafogo – pronto em 2002. Recusaram.

PROPOSTA FINANCEIRA

Três princípios norteiam as ações do Estado nas licitações públicas, e nenhum deles foi cumprido: 1) impessoalidade (todos iguais) – espantoso favorecimento ao Flamengo; 2) publicidade (transparência) – não há. Atos da comissão de licitação vazados para a imprensa, duas vezes; e 3) economicidade (vantagem financeira) – Maracanã, equipamento público, deve gerar dinheiro.

O vice-presidente Jurídico do Flamengo, Rodrigo Dunshee, quase teve um ataque de pânico ao saber – por  vazamento de informação – que a proposta técnica do ‘Consórcio Maracanã Para Todos’ tinha a participação de Santos e Brusque, além do Vasco.                                            

Dunshee – um advogado repudiado por famílias das vítimas da Tragédia do Ninho do Urubu, em 2019 - passou a bradar que o Vasco estaria burlando o edital: uma grande mentira.

Mas esta versão, fake, reverberou na FlaPress e deu certo.

Eis que se descobriu - em outro vazamento seletivo - que a comissão de licitação já tinha decidido o ganhador, ao impugnar Santos e Brusque e, assim, fazendo abrir 36 pontos (117 x 81) em favor do ‘Consórcio Fla-Flu’.

Diferença impossível de ser revertida com a proposta financeira – a última fase, que está por vir.

As propostas “técnicas” e “financeiras” costumam ser proporcionais.  Nada justifica o Governo abrir mão de arrecadar mais dinheiro – poderia investi-lo em saúde, educação, qualquer área – em favor dos de sempre.  

A surpresa de Dunshee com a presença de Santos e Brusque foi porque ele acreditava que o trambique no edital de licitação já estivesse consolidado desde 2022, com a furtiva intervenção do flamenguista e conselheiro Marcio Pacheco e do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ).

O  Vasco não podia ter chance...    

GOLPE DE 2022

O ‘Consórcio Maracanã Para Todos’ apostava na superioridade da sua proposta financeira para ganhar a licitação - a entrega dos envelopes estava prevista: dia 27 de outubro de 2022. Com o palco armado para a vitória do ‘Consórcio Fla-Flu’, o Vasco, através do ‘Consórcio Maracanã para Todos’, entrou na briga.

Mas cometeu um erro: anuncia UM DIA antes, e não UM MINUTO antes do prazo de entrega dos envelopes.

Em 24 horas, agentes do sistema identificaram ser ela – em parceria com WTorre - a melhor. O responsável por travar o processo licitatório foi Marcio Pacheco, conselheiro do TCE-RJ. Segundo ele e outros do órgão, itens do edital, subitamente, se tornavam inconcebíveis.

Um ano e meio depois - abril de 2024 - a licitação voltaria à cena, mas, dessa vez, com uma diferença fundamental: a “proposta técnica” passa e ter bem mais valor em relação à “proposta financeira”.

Durante um ano e meio, o processo licitatório esteve no TCE-RJ. Um dia, a conselheira e flamenguista Mariana Willeman pediu vista - para estudar o caso. Solicitou a manutenção da tutela provisória que tinha suspendido a licitação de outubro de 2022, seguida pelos seus pares.

Negou o pedido do Vasco sobre a gestão provisória.

De imparcial Mariana nada tem: é esposa do ex-vice-presidente Jurídico do Flamengo na gestão Bandeira de Mello, Flavio Willeman (hoje, um subprocurador do Estado). O relator Cristiano Lacerda Ghuerren defendeu a não renovação do Termo Provisório de Uso (TPU), mas foi voto vencido.

ENSAIO

Sucessor do ladrão Luiz Fernando Pezão, Wilson Witzel ofereceu a gestão provisória a Flamengo e Fluminense em 2019 por uma bagatela. Preso, o seu sucessor Claudio Castro prometeu concluir a licitação até novembro de 2021. Mentira. Enquanto isso, eles renovaram nove concessões provisórias (semestrais) para a dupla Fla-Flu.

Nos últimos anos, ignorando os apelos do Vasco – que questionava a renovação provisória sem que houvesse um chamamento público por ela. Em novembro de 2023, enfim, aconteceu o “chamamento público”, mas, na verdade, era ensaio para o trambique que, agora, se desenrola.

Em jogo, a cessão do Maracanã até 31 de dezembro de 2024 - ou até a licitação. O Vasco, impedido de participar: foi vetada a participação de empresas internacionais (a sócia, WTorre); 2) atestado de capacidade técnica em gestão de operação e manutenção de estádio de futebol com capacidade mínima de 30 mil lugares; e 3) o mesmo em ginásio esportivo com capacidade mínima de cinco mil lugares. 

O Vasco não os tem. Os rivais muito menos. Porém, se dizem “donos” do Maracanã e do Maracanãzinho – bens públicos.  

Sem concorrência, levaram a melhor, com a pechincha de R$ 234 mil\mês de outorga. Os cartolas dos coirmãos da zona sul – míopes de caráter quando o papo é isonomia – ainda emitiram um nota criticando a ausência do Vasco nesta licitação fajuta.  

PERSONAGENS

Graças à articulação política do governador Claudio Castro que Marcio Pacheco foi eleito conselheiro do TCE-RJ. Castro era o chefe de gabinete de Pacheco, na ALERJ. Pacheco – ex-deputado líder do governo de Wilson Witzel - é acusado pelo Ministério Público-RJ de peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro que teriam ocorrido em seu gabinete quando ainda era um deputado estadual.

Witzel, Castro e Pacheco são entusiasmados torcedores do Flamengo e frequentam os jogos de camisa e bandeira.

Em breve, Claudio Castro pode ser outro governador preso.

Na última quinzena de 2023, seus sigilos bancário, fiscal e telefônico foram quebrados, na Operação Sétimo Mandamento: apura DESVIOS E FRAUDE EM LICITAÇÕES EM CONTRATOS SOCIAIS ENTRE 2017 E 2020, CORRUPÇÃO ATIVA E PASSIVA, LAVAGEM DE DINHEIRO E PECULATO.

O irmão dele teve a casa visitada: busca e apreensão.

Delatores: Marcus Azevedo da Silva diz que Castro recebeu propina em contratos da prefeitura, como vereador, em 2017. Já Bruno Campos Selem, ex-Servlog, tinha contrato com a Fundação Leão XIII, e disse ao MP que, num encontro, em 2019, Castro, então vice-governador, teria recebido R$ 100 mil em espécie de Flavio Chadud, o dono da Servlog, em um shopping na zona oeste – o encontro está registrado por câmeras de segurança.


FOTO - O governador Claudio Castro, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim e seus amigos.


11 de abril de 2024

         

     
   

FLA-FLU EXISTE PARA ATACAR O VASCO

O neologismo “Fla-Flu” surgiu em 1925 quando os jornais estamparam o caráter da Seleção Carioca dos técnicos Joaquim Guimarães, do Flamengo, e Chico Neto, do Fluminense só com os players dos seus clubes, brancos e endinheirados. Pior: a conquista do Campeonato Brasileiro iria consagrar a tese elitista-racial deles, e influenciar a CBD a só convocar brancos para o Campeonato Sul-Americano, em Buenos Aires. Três vascaínos foram excluídos: os analfabetos Paschoal e Torterolli e o goleiro, de cor preta, Nelson “Chofer” (na pele de um torcedor) – o titular em 1923, quando barrou Marcos, do Flu e Kuntz, do Fla. 

Tudo para que os brasileiros não fossem chamados de “macaquitos”, como dois anos antes.

Sobre Nelson "Chofer", era taxista e fazia ponto no Engenho de Dentro. 

Segundo o jornalista Mario Filho, na viagem de navio da Seleção Brasileira até Montevidéu, para o Campeonato Sul-Americano de 1923, Torterolli e Paschoal procuravam imitar os modos de Fortes, do Fluminense. “Ao fim do jantar chegou uma lavanda. Fortes, de brincadeira, fingiu que ia bebê-la e os dois beberam até não restar uma gota”. 

O fato serviu como argumento para a LMDT, segundo a qual seria conflituosa a relação entre os players “bacanas” e os do Vasco. Logo, a CBD iria a acolher a infâmia da liga carioca.

Não é incomum encontrar tricolores com simpatias pelo Flamengo e vice versa, como dois lados de uma só moeda.

Até 1911, havia sócios de ambos. Em 1902, alguns flamenguistas - inclusive o presidente, Virgílio Leite - assinaram a ata de fundação do Fluminense, na Rua Marquês de Abrantes, bairro Flamengo. Em 1905 e 1906, os coirmãos tiveram o mesmo presidente ao mesmo tempo: o ricaço inglês Francis Henry Walter – ele também defendeu os dois como atleta.

O Flu repassou ao Fla o terreno do Morro da Viúva, em 1935. O futebol rubro-negro nasceu na Rua Paysandu, num terreno da família Guinle, tricolor. Inclusive, lá o Flu disputou seu primeiro jogo. Ou seja, flamenguistas ajudaram a fundar o coirmão e tricolores criaram o futebol do Flamengo, capitaneados por Alberto Borgerth, remador do Fla e player do Flu.

O campo arrendado em 1915 pelo Flamengo, na Rua Paysandu, era vizinho ao estádio da Rua Guanabara (Laranjeiras), sendo o primeiro jogo, naturalmente, o confronto entre eles, com seus players e torcedores brancos.

PRECONCEITO

Em 1916, o Vasco estreou na terceira divisão da LMSA e só chegaria à primeira divisão em 1923. Diferentemente do Flamengo, que tinha dado os seus primeiros chutes quatro anos antes, em 1912, na mesma LMSA e diretamente na primeira divisão - graças à interferência do Fluminense, o dono da bola.

Em sua estreia na divisão principal, o Vasco conquistou o título de 1923. 

Alarmados e sem provar que os players do Vasco eram profissionais, Flamengo, Fluminense e outros abandonam a Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT) e fundam a Associação Metropolitana de Esportes Atheticos (AMEA) – mais excludente – presidida pelo ricaço Arnaldo Guinle, presidente do Flu, e não convidam... O campeão!

Para filiar-se, além de menos peso nas votações, teria que eliminar doze atletas. Os clubes da primeira divisão eram multiesportivos. O Vasco só tinha o remo, assim, voltaria às origens no foot-ball, na companhia de Mangueira, Andarahy e Americano. 

Recusou, é claro, e os Camisas Negras foram bicampeões, em 1924, na liga abandonada pelos covardes.

O regulamento da AMEA, criada por Fla, Flu e outros, não escancarava a proibição aos players de cor preta, mas incluía artigos que inviabilizavam a presença deles: vivia-se o amadorismo, e os times deveriam ser formados por estudantes ou trabalhadores alfabetizados que não exercessem profissão “subalterna” (soldado, marinheiro, estivador, barbeiro, garçom etc.).

Ao se darem conta de que os públicos nos jogos dos Camisas Negras na LMDT, mesmo sem destaque nos jornais, eram superiores, a AMEA, através do Botafogo, convida o Vasco a se filiar, mesmo com o seu time de “analfabetos”, “pretos” e “trabalhadores”. Continuou proibido de jogar no estádio da Rua Moraes e Silva.

Em 1925, o Vasco sofria mandando jogos em Laranjeiras e na Rua Paysandu, pagando 10% da renda. No primeiro, os sócios ficavam atrás de Nelson Chofer ofendendo-o com palavrões racistas e xenófobos. O fidalgo dizia não ter culpa. Na campo do Flamengo, piorou: os flamenguistas, constatou Mario Filho, sentiam mais raiva dos vascaínos. Nova troca, para o Andarahy, mas já era tarde para ser tricampeão.

Os clubes da zona sul não reconheciam o Vasco – da zona portuária, com torcida mais popular – como um “grande” igual a eles. Foi em resposta a este preconceito que os vascaínos se uniram para viabilizar a construção do Estádio de São Januário, o maior da América do Sul (até 1930), do Brasil (até 1939) e do Rio (até 1950).   

Jogadores e torcedores de Flamengo e Fluminense mantinham relações de amizade, se cruzavam no Restaurante Lamas, na Matriz da Glória, na Rua das Laranjeiras. Um só comportamento. “O Flamengo até poderia ter algum preto no remo ou no basquete, jamais no futebol. Os barcos ficam longe, e nas regatas nem é possível reparar a cor da pele dos remadores. No futebol, não”, explica o flamenguista Mario Filho.

Em 1934, o Flamengo protesta contra guarnição vascaína em uma regata e tem o inesperado apoio do Fluminense, que não pratica o remo, mas é filiado à Federação Brasileira das Sociedades de Remo (FBSR), gestora dos esportes aquáticos. Inconformado com a intromissão, o Vasco abandona a FBSR para fundar a Liga Carioca de Remo (LCR) e, também, rompe com a Liga Carioca de Futebol (LCF) com Bangu e São Cristóvão – na crise de 1924, estes ficaram com os ricos – para fundar, junto ao Botafogo, a Federação Metropolitana de Desportos (FMD), profissional e a única na cidade reconhecida pela CBD.

A aliança entre Flamengo e Fluminense é endossada pelo presidente rubro-negro Bastos Padilha. Após uma partida entre os coirmão, o Fla perdeu e parte da diretoria reclamou que as bolas não eram as oficiais. Exigia que Padilha protestasse, mas ele nada fez, porque defendia que a boa relação com Arnaldo Guinle era fundamental para o “projeto Fla-Flu”. Renunciou. Em dias, os revoltosos se acalmaram e o cartola retomou o posto.

FLAPRESS

Em 1935 e 1936, Flamengo e Fluminense estão na LCF; América, Botafogo e Vasco, na FMD, que tem os jogos de maior apelo. De acordo com Mario Filho e Bastos Padilha, as torcidas de Vasco e América eram as maiores da cidade.

Neste contexto de cisão, os coirmãos tinham claro o valor da imprensa na formação da opinião pública. O jornalismo esportivo na capital da República contava com o Rio Sportivo (1926), o Mundo Sportivo (1931) e o Jornal dos Sports (1931) — copia o italiano La Gazzetta dello Sport e o francês L’Auto, impresso em cor de rosa. Em 1936, o flamenguista Mário Filho o compra, com a ajuda de Roberto Marinho, flamenguista de O Globo – o investidor majoritário -, Arnaldo Guinle, presidente do Flu e Bastos Padilha, presidente do Fla.

Com a FlaPress nos primórdios, o Jornal dos Sports, apoiado pela Rádio Continental, começa a promover o “Duelo de Torcidas” nos Fla-Flus. A divulgação é maciça, inédita, na disputa pelas melhores rendas com o Vasco. No primeiro “duelo”, eles protestaram contra a CBD: os diretores de ambos os clubes se vestiram de branco, demostrando união. O presidente do Fla, Bastos Padilha, recebeu uma placa do amigo e presidente do Flu, Alaor Prata.  

A expressão “Fla-Flu”, enfim, é propagada no “Duelo de Torcidas”.

Nelson Rodrigues: “O Fla-Flu sem esta abreviação mágica existia desde 1911 ou 12. Até que Mário Filho mudou o nome (...) senhoras, que não sabiam nem quem era a bola, compareciam ao jogo, magnetizadas pelo mito”.

Tentavam manter o Vasco em plano secundário.

A FlaPress nas décadas de 1930 e 1940 – como a AMEA, com a réplica da Carta Histórica, de 1924 – tinha por meta afastá-lo das causas populares relacionando-o apenas aos portugueses, enquanto o Flamengo, com o seu DNA racista, passou a ser identificado como o verdadeiro clube popular. O Fluminense, sua antítese: o preferido dos ricos.

Mario Filho escreveu no Jornal dos Sports, em 1940: “Por que não se tenta apagar o ressentimento entre as torcidas de Vasco e Flamengo?”. Iniciou no Torneio Municipal [os times não atuavam em seus próprios estádios]: no Flu x Botafogo e no Flu x São Cristóvão, em São Januário, os vascaínos aplaudiram os adversários do time tricolor. Mas, quando o Vasco foi à Gávea encarar o Flu, os rubro-negros vaiaram os Camisas Negras. “Desde então, os torcedores do Vasco se veem obrigados a vaiar o Flamengo e vice-versa”.

O “duelo de torcidas” foi relançado com a inauguração do Maracanã. Outra vez, em 1951, a FlaPress tenta fazer do Fla-Flu o clássico mais popular, mas é impossível. Badalado a semana inteira, levou menos público do que o Vasco x Fla (1x2) - como quase sempre –, neste jogo, o rival quebraria a escrita de não bater o Expresso da Vitória desde a final de 1944.

Tempos depois, na decisão do Campeonato Carioca de 1974 – Flamengo 0x0 Vasco - o ex-presidente da República, ditador e flamenguista Emílio Garrastazu Medici encontrava-se na tribuna de honra. Já o presidente do Flamengo, Hélio Mauricio, cardíaco, ouvia pelo rádio, na sede do Fluminense, em Laranjeiras, na companhia do presidente tricolor, Jorge Frias, e correu para o Maracanã após o apito final. 

Na semana seguinte, na eleição realizada na Gávea, Hélio Maurício seria reeleito — com o voto de um associado ilustre: Médici.

Em 1986, o flamenguista Marcio Braga ajudou a derrotar o vascaíno Medrado Dias na eleição à presidência da CBF - a vida inteira combateu o Vasco e teve Eurico Miranda como desafeto. Já a sua relação com os cartolas do coirmão (e do Botafogo) sempre foi amistosa. Ele e Francisco Horta, ex-presidente do Fluminense, foram amigos de infância em Copacabana.

EURICO

Frustrados com o bi vascaíno em 1993 e com a boa relação entre Eurico Miranda e Eduardo Vianna, o presidente da FERJ, os coirmãos cooptam o Botafogo na “Liga Carioca”. Querem o Campeonato Carioca sem vínculo com a FERJ, da qual pretendiam se desfiliar – como em 1924... –, mas recuam dissuadidos pela FIFA. A FlaPress os apoia e abre espaços. Um político, em especial, surfa naquela onda de moralismo barato: o então deputado estadual Sergio Cabral Filho (PMDB).

A “Liga Carioca” é ressuscitada em 1997, como sempre para combater o Vasco, por Kleber Leite (Fla), Álvaro Barcellos (Flu) e José Rolim (Bota), presidida por Francisco Horta (ex-Fla-Flu). Esses cartolas entraram em transe profundo quando Eurico se baseou no regulamento para adiar jogos do Campeonato Carioca, se valendo de que o time vascaíno tinha quatro atletas em Seleções Brasileiras (Germano, Edmundo, Felipe e Pedrinho).

Em 1997 e 1998, os membros da “liga”, por chilique, perderam jogos por W.O.

Passaram anos tentando derrubar Eduardo Vianna, o “Caixa d’Água”, da presidência da FERJ e só conseguiram quando este morreu, em 2006. Rubens Lopes assumiu em 2007. Rubinho – até hoje o presidente – para se eternizar tornou-se um aliado dos herdeiros daqueles racistas da AMEA.

FATALIDADES

No primeiro rebaixamento do Vasco à Série B, em 2008, na última rodada do Brasileirão era preciso ganhar do Vitória e torcer por uma combinação de resultados. No Atlético-PR 5x3 Flamengo, a vitória do rival ajudaria, e um empate lhe daria uma vaga na Libertadores. O primeiro gol paranaense foi em uma cabeçada fortíssima de Toró – cria do Flu – no primeiro pau, sem chance de defesa. Gol-contra! O Fla era presa fácil – talvez, devido à pressão da torcida, que, na véspera, tinha pichado os muros da Gávea com ameaças aos jogadores e a Marcio Braga (“Se ganhar morre”) se o Vasco fosse... ajudado.

Os coirmãos tabelaram em 2013, quando a Portuguesa impediu a queda de Flamengo ou Fluminense à Série B do Brasileirão.  Na última rodada, a Lusa lançou em campo - no final do segundo tempo - Héverton, irregular - caso inédito: nem o atleta, nem o técnico, diretor ou imprensa se deram conta da infração. Nesta última rodada, dois jogadores irregulares é outro absurdo. Para o Ministério Público-SP, funcionários da Lusa foram subornados. Esta perdeu quatro pontos e foi rebaixada no lugar do Fla, que, um dia antes, cometera o mesmo erro escalando André Santos contra o Cruzeiro. Se nada tivesse ocorrido, o rebaixado seria o Flu – já anunciado nos jornais. Dias depois, foram confirmadas as duas escalações irregulares, e os tricolores festejaram na porta do STJD mais uma virada de mesa.

Antes deste jogo com o Cruzeiro, parte da FlaPress anunciou que André Santos não poderia ser escalado. Pois bem: ele foi e, depois, não se viu nada, em qualquer mídia, sobre o tema. O silêncio só iria acabar quando constatou-se que a Portuguesa cometera – um dia depois – igual infração.

Em 2015, o técnico Vanderlei Luxemburgo, do Flamengo, disse em uma entrevista que a federação devia “levar porrada”. É suspenso dois jogos pelo TJD, inclusive de um Fla-Flu. O Fluminense, solidário, se uniu em protesto contra os juízes da FERJ. Veja que esquisito: os jogadores do time mais favorecido (Fla) do Brasil e do dileto coirmão (Flu), lado a lado, com as bocas cobertas por esparadrapos... em nome da moral! O Flamengo, campeão carioca roubado em 2014, ameaçava até não disputar em 2016.

MARACANÃ

Já governador, Sérgio Cabral anunciou, em 2008, que o Maracanã iria ser privatizado após as obras de “reforma” para a Copa de 2014. Flamengo, Fluminense e CBF tramaram a ocupação, com esta anunciando 70% dos jogos da Seleção Brasileira no estádio. Cinco anos depois, em 2013, os concorrentes da licitação para gerir a “Arena Maracanã” por 35 anos eram o Consórcio Maracanã S/A — vencedor de véspera, imediatamente sublocou a gestão aos coirmãos — e o Complexo Esportivo e Cultural do Rio.

O propósito dos coirmãos é sabotar o Vasco, tomando o estádio para si. A primeira exclusão foi em relação à torcida vascaína, que em 2013 deixou de ter prioridade no lado direito da tribuna para uma torcida menor que a sua.                           

A demolição do velho Maracanã foi uma bênção para Flamengo e Fluminense: ganharam uma nova arena de R$ 1,2 bilhão, sem gastar um tostão. Muito lucrativa. Mentira oficial: dava prejuízo antes da privatização.

A desculpa dos rivais para terem recusado a gestão compartilhada com o Vasco é que o gramado seria danificado pelo excesso de jogos. É chocante a discriminação aos vascaínos, tratando-os – com a conivência da FlaPress - sem os mesmos direitos ao patrimônio público. Alegaram que com mais de 70 jogos por temporada a grama seria prejudicada – na cabeça deles, é isso: a graminha tem mais valor que o futuro do Vasco.

Incluindo preliminares e outros eventos, o Maracanã abrigou 160 jogos em 1964; 157 em 1965; 211 em 1970; 114 em 1980. Pelé e Garrincha não reclamavam.

Os coirmãos também se recusam, covardemente, a liberar o Maracanã para jogos do Vasco - só apelando à Justiça, algo recorrente nos últimos anos, e sempre com sucesso. O disparate é tanto que contraria itens do contrato de concessão provisória que os enriquece.

Antes de buscar parceiros para a licitação, o Vasco tentou se acertar com Flamengo e Fluminense. Recusaram, é claro. Em O Globo, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, argumentou que Alexandre Campello, ex-presidente do Vasco, em 2019 – não quis a gestão PROVISÓRIA do estádio – e, assim, ele encerrou o assunto para toda a eternidade.

A soberba de Landim, executivo nas firmas do ladrão Eike Batista, é um traço da elite rubro-negra: 

“Ninguém aqui está privilegiando ninguém. Não estão entregando a ninguém. O Vasco teve chance de se associar ao Flamengo e ao Fluminense, mas no início de todo esse processo preferiu não se juntar”.

NOTA OFICIAL

“O Vasco da Gama se vê obrigado a esclarecer informações dadas pelo presidente do CR Flamengo, Rodolfo Landim: 1. Não é verdade que o Flamengo ofereceu ao Vasco a oportunidade de participar da gestão do Maracanã neste processo licitatório. O dirigente usa o desinteresse de outra gestão, em 2019, em uma outorga precária de seis meses, para concluir que não queremos administrá-lo. Não diz que, a partir do início de 2021, procuramos CR Flamengo e Fluminense FC com o objetivo de participar na gestão, não sendo possível. OS RIVAIS TÊM ACORDO MÚTUO DE EXCLUSIVIDADE NA GESTÃO DO ESTÁDIO PÚBLICO. 2. Ao criarmos o Consórcio Maracanã para Todos, trouxemos dois gigantes da indústria de administração de arenas. A narrativa de que o Vasco “entrou para melar” é tão surreal que não vale comentário. 3. O Vasco aguarda a nova publicação do Edital de Licitação, uma vez que o processo foi paralisado pelo TCE um dia antes do prazo de entrega das propostas. 4A narrativa de que a presença das empresas parceiras do Vasco deixará o futebol em segundo plano é mentira. 5O Vasco é um clube de futebol com 125 anos de história, grande parte construída no Maracanã. O futebol é prioridade. O VASCO REITERA SEU COMPROMISSO DE ABRIR O MARACANÃ A TODOS OS CLUBES E SUAS TORCIDAS, EM CONDIÇÕES IGUAIS. INFELIZMENTE A RECÍPROCA NÃO ESTÁ SENDO VERDADEIRA. O CR Flamengo negou duas vezes em 2022 o direito dos nossos torcedores verem seu time no Maracanã, com justificativas implausíveis. Tivemos nosso pleito acatado por duas instâncias do Judiciário. 6Ao contrário do que faz parecer, o CR Flamengo tem constantemente infringido cláusulas da Permissão Temporária de Uso do Maracanã. Todos devem utilizá-lo sob as mesmas condições. O Fluminense FC pagava R$ 90 mil por jogo. O Vasco, R$ 250 mil, além de não repassarem a receita de bares e restaurantes, quebrando a igualdade de tratamento. Censuraram a exibição de mensagem institucional: "Desde 1898 o legítimo Club do Povo – Respeito Igualdade Inclusão". 7. Ao contrário do que foi declarado, para participar da gestão do Maracanã oferecemos ao Fluminense FC mandar alguns jogos em São Januário. 8O Vasco da Gama reitera sua solicitação de que o certame definitivo aconteça o mais rápido possível, com regras claras e transparentes e tenha como norte o melhor para o Estado do Rio de Janeiro, todos os seus clubes e torcedores, sem influências. Não temos dúvidas de que o Consórcio Maracanã para Todos é o mais bem preparado e que, se o resultado for técnico, será o vencedor. 9. Queremos tranquilizar a imensa torcida vascaína: o Vasco da Gama e a 777 Partners utilizarão todos os mecanismos ao nosso alcance para que nossos interesses sejam preservados”.